Os piores Momentos da economia moçambicana
Há esquadrões de morte para abater opositores, revela agente da Polícia da República de Moçambique
Uma das
frentes mais activas do conflito político-militar, que decorre há vários meses
em diversas regiões de Moçambique, acontece no distrito de Murrupula, na
província de Nampula, norte de Moçambique, onde oficialmente um contingente da
Polícia da República de Moçambique(PRM) foi enviado para a localidade de
Naphuco para repor a ordem, alegadamente perturbada por homens armados da
Renamo, e um agente terá sido raptado. Na verdade, um esquadrão de elite das
forças governamentais foi enviado para o local.
“(...)fizemos
uma defesa circular, em que todos parámos e concentramos o fogo. Mas sem
esperar que aqueles podiam responder, porque nós fomos de madrugada. Quando
responderam cada um correu à sua maneira e ele ficou”, relata um agente das
forças especiais da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia da República
de Moçambique (PRM), que revela ainda ter realizado várias "missões"
de eliminação de alvos previamente identificados pelos comandantes, uma das
quais a 25 de Setembro de 2015, em Zimpinga (41 quilómetros a leste de Chimoio
na Estrada Nacional Número 6, entre Gondola e a Missão de Amatongas ), onde a
ordem era eliminar fisicamente Afonso Dhlakama, líder da Renamo. “Aquele velho
(Dhlakama) não morre”, disse.
Leia a
seguir um relato arrepiante, feito por quem diz ter participado e por isso
testemunha. “Estamos cansados. Não ganhamos nada e estamos a sonhar com
aquilo”, diz o agente. O referido agente, cuja identidade não revelamos, nasceu
na cidade de Maputo em 1985.
“Cumpri a
tropa no Centro de Formação de Forças Especiais de Nacala Porto”, diz o agente.
“Estava lá como Instrutor Auxiliar de Armamento e Tiro”. Cumprido o serviço
militar, e depois de algum tempo em que trabalhou para uma empresa privada de
segurança, foi incorporado nas fileiras da PRM. “Entrei para a polícia; fizeram
uma seleção. Queriam aqueles que tinham sido militares e que tivessem feito o
curso de armamento, para serem da Intervenção Rápida, mas estando na
Presidência da República. Trabalhei na RP1 e na RP2”, diz ele. RP é a sigla
para Residências Protocolares pertencentes à Presidência da República.
P – Qual é o
seu percurso até chegar às Forças Especiais?
Agente – Fui
militar das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Comecei a minha
formação militar na Catembe, na Escola de Fuzileiros Navais. Depois fiquei dois
anos à procura de emprego, até ser incorporado na polícia. Aqueles que foram à
tropa não podem ser cinzentinhos; têm que pertencer às forças especiais. Fui
fazer outra formação de anti-motim, de controlo de multidões, no caso de
greves. Essa formação anti-motim é uma especialidade, Força de Intervenção
Rápida é outra. Intervenção Rápida é uma força tipo bombeiro, que aparece para
resolver um problema e acabar. Então, porque é que levam os que foram à tropa?
É Porque estes sabem disparar vários tipos de armas. Por exemplo, eu sei
disparar cerca de 26 tipos de armas. Esses das esquadras só sabem disparar
pistola e AKM. Por isso é que aqueles que estiveram na tropa não pode estar
numa esquadra; têm de estar num quartel, então nós temos uma dupla função;
operamos como militares e como polícias também.
P – Em que
ramo da corporação está afecto?
Agente – Sou
agente da Polícia, da Unidade de Intervenção Rápida. Estive a trabalhar na
Presidência da República. Fiz curso de franco atirador. Vocês não sabem o que
existe aqui, guerra existe só que nas cidades não há guerra.
P – Onde e
desde quando é que há guerra?
Agente –
Estava na escolta presidencial, mas fui destacado para Nampula porque
precisavam de franco-atiradores lá para operar as armas pesadas que estão lá;
canhões novos de fabrico russo ZU 23. Já existiam do mesmo tipo antigas, mas
recentemente chegaram novas. Só na posição de Gorongosa, onde estive em 2012 e
2015, existiam pelo menos oito. Éramos uma força conjunta que estávamos lá a
realizar tiros com Dragunov, essa é uma arma que usamos para procurar as
pessoas indicadas e abater, porque temos tido esse trabalho.
P – Que
trabalho é esse, com quem você realiza?
Agente –
Somos mais ou menos um pelotão de 20 especiais. Quando começou aquele problema
em Gorongosa, em 2011, fizemos uma reciclagem e a primeira missão foi em 2012.
Nós vamos lá quando a situação não está nada bem. Primeiro, tem pessoas que
avançam para lá e quando a situação não está nada bem chamam os atiradores de
armas pesadas para chegar e destruir. Nós é que entramos lá e matamos aquele
comandante que diziam que era anti-bala; aquele morreu com canhão em Muxúnguè.
P – Que
outras missões em que você esteve envolvido?
Agente – Nós ficamos no quartel, mas
eles nos chamam, e dizem vão para a província x. Saímos daqui de avião, e lá
apanhamos viaturas dos comandos provinciais. O que me deixa revoltado é que o
meu trabalho é combater a criminalidade, manter a ordem e tranquilidade
públicas. A polícia não é para matar; é para apanhar a pessoa, isolar e
entregar à justiça para ser ouvida e de lá darem seguimento. É o que nós
entendemos. Mas aqui neste nosso país alguém pode chegar, dar ordens para
entrar no carro, e nós só temos que cumprir ordens. Ninguém vai aparecer a
dizer que não quero, porque há consequências. Vinham com a foto e diziam que
“está aqui, vão mata-bichar e aí onde vão mata-bichar virá alguém, então aquele
que vier, mesmo primeiro isolam o guarda-costas dele porque virá acompanhado”.
Dão toda a informação que “este virá acompanhado, o nome não vamos vos dizer
mas é esta pessoa na foto e deve ser abatido”.
P – Então,
as missões não são só contra os homens armados da Renamo?
Agente – Em
Maputo nunca usamos armas contra militares. Conforme eu disse, dão-nos a foto e
depois são vão ouvir que um desconhecido foi encontrado morto na zona x, como
se tivesse sido um assalto.
P – Quer
dizer que também operam nas cidades?
Agente – Na
cidade da Beira, mas onde trabalhei mais foi em Nampula. Em Nampula já seguimos
um Nissan Navarra branco dupla cabine, com matrícula vermelha. Seguimo-lo desde
o hotel, no centro da cidade, fomos via Cipal, um pouco depois da Faina,
contornou para a estrada Nampula-Cuamba, e era ali mesmo que o queríamos.
Passamos o mercado Waresta, fomos até antes de Namina, tem o distrito de
Ribáuè, quando saímos de Rapale tem uma grande distância de mato. O nosso
primeiro carro, um Prado preto, ultrapassou e atrás estava outro Prado, ele
praticamente ficou no meio. Furámos o pneu de frente, ele perdeu a direcção e
foi parar perto da linha férrea. Nós queríamos um que estava atrás, a mexer o
telefone, um saiu e queria responder o fogo mas levou na cabeça. O responsável
e o motorista também quando iam sair, atiramos mortalmente. Ficaram ali.”
P – Que
outras missões de que se recorda?
Agente – Há
bocado fomos a Manica, tivemos um trabalho, só que lá fomos à paisana.
Recebemos a foto da pessoa que nos disseram que devia ser abatida. Nós não
conhecemos bem as pessoas (a serem abatidas). Eles trazem e dizem “vão até à
zona x, vai passar alguém”, dão nos a informação toda da pessoa (vestuário,
carro), dizem para persegui-la até uma zona onde a polícia não estará lá.
P – Já
realizou alguma missão contra Afonso Dhlakama?
Agente – Já,
só que aquele também é drogado. Para o líder da Renamo, primeiro lhe tentamos
no distrito de Moma, mas o falhamos. Em Manica agora, só que aquele senhor não
morre.
P – Quer
dizer que o vosso pelotão estava em Manica atrás de Afonso Dhlakama?
Agente – O
trabalho ali foi assim; mandaram-nos para lá alguns dias antes. Fomos recebidos
por um dirigente (nome omitido). Primeiro eles (o líder da Renamo e a comitiva)
estavam num comício, a força da escolta que estava lá dava-nos informações.
Quem organizou aquilo, quem nos estava a dar refeições, em que sítio nós
dormimos em Manica, o responsável dizia, “que tal hoje não pode falhar nada”.
P – Mas
falharam...
Agente – Não
falhamos. Muitos morreram, mas aquele velho (Dhlakama) não morre, desapareceu.
Ali tem montanhas, nós ficamos na parte alta, não podiam ir outros colegas lá
em baixo porque senão podia haver fogo cruzado, naquilo de que o carro que
passasse havia de levar, porque não estávamos com armas ligeiras; usamos armas
próprias para estragar carros. Pusemos ali a mira, sabíamos que Dhlakama vinha,
porque estavam no comício e de lá ligavam para o nosso comandante a avisar que
daí a pouco tempo Dhlakama havia de passar, que já partiu, alimentem as armas,
e posicionamo-nos com as metralhadoras, mas não sei como é que é possível um
carro passar a poucos metros e não ser atingido. Vários morreram ali mas
Dhlakama conseguiu sair. Ainda perseguimos mas eles responderam.
P – Quem é
que deu as ordens para essas missões em que você participou?
Agente –
Sabe, aqui em Moçambique tem pessoas que nunca são mencionadas, de quem nunca
se fala. Quando há problemas, sempre fala a polícia, os militares, mas há uns
que sempre ficam por detrás disso: SISE(Serviços de Informaçao e Segurança do
Estado). São grandes, têm informação de tudo isto aqui.
P – Só
actuaram em Nampula, Manica e Sofala?
Agente –
Realizamos missões de porta-à-porta na província de Sofala, nos distritos de
Caia, Marromeu e Gorongosa. Chegávamos, batíamos à porta, e aqueles que saiam
eram mortos. Obtemos informação dos líderes comunitários; são eles que nos
informam sobre a presença de homens da Renamo numa determinada região.
P – Onde é
que foi a missão mais recente?
Agente – Eu
fui chamado para Murrupula, em Nampula, em Janeiro de 2016. Porque conforme já
disse, os líderes comunitários conseguem observar os movimentos nas aldeias, e
verificar a chegada de pessoas ou grupos estranhos. Então, chamaram-nos para
lá. Não permanecemos lá; ficamos num hotel, como civis, à espera de indicações
para irmos trabalhar”.
P – Que tipo
de trabalho foi esse?
Agente – Há
uma base da Renamo numa aldeia, é uma coisa de 42 quilómetros depois da Estrada
Nacional. Deixamos os carros para não provocar ruído. É uma zona onde não
entram frequentemente carros; os únicos carros que vão para lá vão à procura de
carvão e lenha. Nós fomos a pé. Mesmo agora que estou a falar tem lá forças
pertencentes à 6ª Unidade da Intervenção Rápida, tentando resgatar um homem que
desapareceu com a sua arma.
P – Está a
falar de um vosso colega que desapareceu? Como é que desapareceu?
Agente – Nós
fomos lá e identificamos uma base da Renamo. Fizemos uma defesa circular, em
que todos paramos e concentramos o fogo, mas sem esperar que eles pudessem
responder, já que era de madrugada. Quando responderam fogo cada um correu à
sua maneira e ele ficou, tinha uma metralhadora PK de 475 munições (é uma
metralhadora Kalashnikov russa vulgarmente conhecida por PK), tinha dois carregadores.
Depois o Comandante ligou e disse que queria o esse elemento vivo ou morto, e
com a sua arma.
P – Como é
que vocês comunicam com os líderes comunitários?
Agente –
Todos os líderes comunitários, nas províncias, trabalham com as forças
governamentais; eles dão informação. Têm a missão de vigiar na aldeia, e
informar sobre a presença de elementos da Renamo; quem são os responsáveis,
quem são os delegados, etc. Então nós chegamos, batemos a porta e levamos a
pessoa.
P – Então,
está a dizer que os homens armados da Renamo vivem no meio das populações?
Agente –
Eles (os homens armados da Renamo) vivem muito bem com a população, e a
população não denuncia.
P – Esses
homens armados da Renamo são jovens?
Agente – Dos
que já capturamos nunca vi jovens. Aqueles jovens que aparecem a entregar-se
como membros da Renamo são informadores. Muitos daqueles que se entregam estão
a ser chantageados e agora estão a ter problemas para regularizar os
documentos. Muitos nem são guerrilheiros.
“Em Tete é que foi mais
vergonhoso porque o comandante que estava lá em frente disse queimam lá”
P – Quantos
homens armados da Renamo estavam em Murrupula?
Agente – Não sabemos quanto são,
porque muitos não andam fardados, eles vivem com a população. Eles nunca foram
a uma aldeia e começarem a disparar. A Força de Intervenção Rápida é que queima
escolas, se não sabiam. Nós quando íamos atacar, quando entrávamos numa aldeia,
começávamos a disparar de um lado para o outro, e todos fugiam. O comandante
ligava e dizia que “os homens da Renamo fizeram isto aqui”, e logo vinham
ordens superiores a dizer “destruam isso aí”.
P – Então,
quando as populações fogem porque dizem estarem a ser atacadas pelas Forças
Governamentais não estão mentir?
Agente – Não
estão a mentir. Em Tete é que foi mais vergonhoso porque o comandante que
estava lá em frente disse queimam lá essas palhotas, matem os cabritos, bois e
outros animais.
P – Quem foi
esse comandante?
Agente – O
comandante é (nome omitido). Ele teve problemas de tráfico de drogas. Foi
condenado mas não cumpriu a pena, foram lhe tirar quando começaram essas
confusões e foi colocado como comandante em Nampula. Quando começou a
instabilidade em Nampula foi-se instalar a Intervenção Rápida na rua dos Sem
Medo, e foi aí que tudo começou. Aquele Dhlakama tem medo dele, e do (nome
omitido), mais conhecido por Adolfo, foi comandante dos comandos, um desertor
da Renamo. Quem anima cumprir missões com ele é o comandante (nome omitido),
porque nas missões que ele comanda não morre ninguém. Agora, ir com o
comandante (nome omitido) morre o próximo dele, porque aquele no mato não tira
a mão do bolso e não é atingido pelas balas. O comandante (nome omitido) foi
comandar em Nampula, então aqueles (Afonso Dhlakama e os seus homens) fugiram
para a Gorongosa, ele foi atrás deles como comandante do batalhão independente
de Gorongosa, até agora.
P – Então o
comandante (nome omitido) está em Sofala ou em Tete?
Agente –
Esse (nome omitido) está em Gorongosa, mas é chamado em todo o sítio onde há
confusão, por isso mandaram-lhe para Tete. Fomos juntos para lá, entre Maio e
Setembro.
P – Além do
vosso pelotão existem outros que realizam essas missões?
Agente – Não
é o único. Outros estão espalhados pelas províncias.
P – E existe
armamento?
Agente – Têm
carros blindados novos com canhões. Chegaram novos carros na brigada montada,
foram buscar ao porto de madrugada já estão aí homens a serem formados. Há
canhões ZU23, armas de precisão Dragunov, e metralhadoras Pecheneg , todas de
fabrico russo.
“No dia em que fomos roubar
votos em Nampula, em 2014”
P – Porque é
que decidiu revelar-nos tudo o que tem feito?
Agente –
Tenho filhos por criar, e aquele trabalho me está a criar perturbações mentais.
Desde que esta confusão da Renamo começou as pessoas estão a morrer. Fui fazer
outra formação anti-motim, de controlo de multidões, no caso de greves. Não é
para isto que nós juramos. É por isso que alguns já foram expulsos, por se
recusarem a cumprir certas missões. Por exemplo, somos chamados para uma
formatura, e daqui para a aqui, nos dizem, “senhores, entram no carro, levem
bazucas”. Bazucas não são para o controlo anti-motim. Para debelar um motim
precisa-se de pressão de ar e gás lacrimogéneo. Agora, quando te dizem para
levar roquetes isso é guerra, e para mim não faz sentido.
P – Também
já participou em manifestações? Porque é que levam armas com balas verdadeiras?
Agente –
Quando se vai a um sítio para se manter a ordem contra um motim só tinha que
ser com gás lacrimogéneo e pressão de ar, mas leva-se Makarov, leva-se AKM para
com o gás lacrimogéneo afugentar a multidão e fazer demonstração. Em todas as
manifestações tem que se fazer demonstração, tem que cair pessoas para aquilo
parar, é como temos feito. Para as pessoas saberem que a próxima bala pode ser
para mim, é aquilo que nós chamamos de demonstração.
P – Quer
dizer que há entre vós um sentimento generalizado de revolta?
Agente – Uma
das razões é que estamos a fazer um trabalho que não corresponde com aquilo
porque nós juramos e também porque não nos pagam horas extras, porque nós somos
solicitados a altas horas da noite ou de madrugada. Estamos a fazer coisas que
não são aquilo que a lei manda. Até aí os nossos chefes ... nós pensamos que
eles recebem mas não nos dão.
P – Qual foi
a sua primeira operação?
Agente – A
minha primeira operação foi em Nampula, na Rua dos Sem Medo, naquele ataque à
residência de Afonso Dhlakama, na Rua das Flores. Íamos lá com ordens do
Comandante (nome omitido); ele era o Comandante Provincial. Ele agora foi
substituído pelo (nome omitido).
P – Quantos
são vocês no vosso grupo?
Agente –
Estou num grupo separado porque tem um grupo normal da Intervenção Rápida, e
tem o grupo de acções especiais, que é o meu grupo. No meu grupo somos cerca de
50.
P – E o
vosso alvo são os homens armados da Renamo?
Agente – É o
que pensávamos, mas mais tarde fomos ver que não só eram eles porque há certos
dias que vinham com fotos para fazermos certos trabalhos, mas só que aqueles já
não aparentavam ser homens da Renamo.
P – Em
Nampula?
Agente –
Nampula é o sítio onde havia mais problemas. Porque para acabar aquilo ali em
Nampula teve que se fazer o trabalho de porta a porta. Porque os líderes
comunitários tinham o seu papel de identificar as pessoas; quem é o líder, quem
é o delegado da Renamo. Então a gente ia lá... sem o líder, o líder só dizia
aos homens do reconhecimento e o reconhecimento não abate quem abate somos nós
das operações especiais.
P – Os teus
colegas também estão descontentes?
Agente – Lá
há muito descontentamento. Só que ali não se pode fazer o que... no meio de
muitos estar a murmurar porque ali há muita gente que quer subir na base do
outro. Pode ir dar informação.. uma informação dali dentro vale muito. Então
ali há muito risco. O dinheiro é pouco, mas o risco é grande. Nós temos todas
as provas que podem implicar muitos comandantes, porque são eles que dão as
ordens.
P – Não teme
represálias?
Agente –
Para eu tomar a decisão de falar sobre isto é porque eu acabava de cumprir uma
missão. Acabava de fazer um trabalho que todos nós saímos a murmurar; saímos
mesmo mal, lesados, fomos atirar nas pessoas e nós saímos lesados. Fomos atirar
mesmo nas pessoas.
P – Que
operação foi?
Agente –
Tivemos um trabalho... primeiro fomos a Tete. Então vinha um D4D, nós estávamos
num sítio ali. Saímos com uns carros Prados fomos até a um sítio numa sombra
onde tomamos refrescos e sumos. Apareceu um agente do SISE e disse a foto é
esta aqui; uma foto bem grande. Este aqui quando aparecer vocês hã de ver; o
movimento só hão de ver. De facto, ninguém nos disse. Vimos ele a vir primeiro
já guarda costas ele estava no meio, e notou-se que este estava protegido.
Saímos com ele, seguimos. O nosso carro avançou primeiro, ficou um outro Prado
porque eram quatro Prados; ficou um Prado atrás um outro adiantou. Quando ele
vinha foi bloqueado. Primeiro atiramos contra o ADC. O ADC deu um tiro para o
ar mas ele foi atingido mortalmente. Logo que ele fez aquilo o carro foi bater
num arbusto, e ele (o alvo) quando tentou sair foi mesmo à queima roupa. Daí
saímos e apanhamos o voo e voltamos para Maputo.
Outro dia já
fomos a Nampula fardados. Nós não fazemos isto porque gostamos de guerra. Não
ganhamos nada. Vale a pena eles, ganham porque quando a gente mata, eles
rebocam gado nos camiões; por exemplo, o meu comandante, o carro que está a
andar com ele, é por causa daquele gado que se levou lá em Gorongosa. Nós não
levamos nada. E um comandante lá também foi bem chantageado porque o dia que
fomos queimar, tivemos ordens de queimar motorizadas, aquelas todas motorizadas
da Renamo, nós a incendiar ele levou isolou aquela mota foi andar com ela, até
hoje está a andar com aquela mota, Badjadja, uma mota vermelha, sem matrícula
até... Comandante (nome omitido).
P – Esta
Unidade de Intervenção Rápida onde você está já participou em manifestações?
Porque levam armas com balas de verdade?
Agente –
Quando se vai num sítio para se manter a ordem de motim só tinha que ser com
gás lacrimogéneo e pressão de ar, mas leva-se makarov, leva-se AKM para com o
gás lacrimogéneo afugentar e fazer demonstração. Todas manifestações tem que se
fazer demonstração, tem que cair pessoas para aquilo parar, é como temos feito.
Para as pessoas saberem que a próxima bala pode ser para ti, é aquilo que nós
chamamos de demonstração.
P – Pode
revelar-nos uma situação de motim onde usaram balas reais?
Agente – No
dia em que fomos roubar votos em Nampula, em 2014. Ali na escola de Belenenses,
escola secundária 12 de Outubro, escola secundária de Nampula, fomos de voo com
homens do SISE, homens encasacados. Tem reconhecimento que ficam de tranças,
tipo marginais, foram atribuídos tarefas vocês vão para lá fazer confusão por
que os da Renamo têm influência. Para nós conseguirmos sacudir aqueles primeiro
tiveram que ir lá colegas à paisana, que tinham tranças e roupas rasgadas,
foram formar bicha e instigar, «a Frelimo aqui tem que perder » diziam e quando
outro queria responder então armava-se confusão, é muito fácil de agitar macua.
Depois ligaram-nos e disseram venham lá. Aí foi a Intervenção Rápida numa de
que é legítima defesa e está a ir manter a ordem. Gás lacrimogéneo e fumaça,
aquilo ficava escuro, levávamos as urnas nos blindados e íamos entregar homens
do SISE que preenchiam Frelimo, Frelimo... Enquanto lá na escola continuávamos
a disparar. Depois os carros saiam e entravam no meio da confusão enquanto eles
estavam ali a preencher. OMM aquelas senhoras são malandras, estavam lá no
quartel da Intervenção Rápida em Nampula cheias a preencher Frelimo, Frelimo...
houveram pessoas que se fizeram de corajosos e aí o comandante disse agora
batem quatro para eles verem que a coisa é séria.
P – Ao longo
deste período o Governo tem dito que não quer guerra e até quer dialogar com o
partido Renamo para se alcançar a paz, acha que vão entender-se?
Agente –
Sabe qual é o problema é que lá no Norte é onde há riqueza, Dhlakama foi
roubado nos votos mas ganhou. Eu não entendo a política só cumpro missões, mas
eles não vão deixar Dhlakama governar.
Por causa da EMATUM, Moçambique está a beira de tornar-se num Estado caloteiro
Custo de
vida a subir, metical a perder terreno para o dólar norte-americano,
estagnação dos investimentos, cortes nas despesas … se os moçambicanos sentem
que a vida não está fácil o pior ainda está para vir, e nada tem nada a ver
com a guerra nem as calamidades naturais, a causa é a EMATUM. Na semana finda
o Executivo de Filipe Nyusi anunciou a intenção de renegociar com os
credores, do empréstimo contraído pela Empresa Moçambicana de Atum e
ilegalmente avalizado pelo Governo de Armando Emílio Guebuza, as modalidades
de pagamento o que levou a agência notação financeira Standard & Poor's a
baixar “o rating de crédito soberano de longo e curto prazo em moeda
estrangeira atribuído à República de Moçambique de B-/B para CC/C”.
A decisão
da Standard & Poor's, que considera que as perspectivas económicas no
nosso país são “negativas” e seguem-se ao anúncio, no passado dia 9 de Março,
da intenção do Governo de Moçambique de trocar os actuais títulos de dívida corporate
com garantia soberana do Estado e emitidos pela EMATUM Finance B.V.(uma
empresa com sede na Holanda) por obrigações do tesouro moçambicano emitidas
em dólares norte-americanos e com taxa fixa de juros estendendo a maturidade
de 2020 para 2023.
“No dia 15
de Março de 2015 a Standard & Poor's Ratings Services rebaixou o rating
de crédito soberano de longo e curto prazo em moeda estrangeira atribuído à
República de Moçambique de B-/B para CC/C. O rating de crédito soberano de
longo prazo em moeda local foi mantido em B-/B”, indica um comunicado da
instituição financeira especializada na avaliação de crédito de entes
emitentes de instrumentos de dívida.
Na escala
da Standard & Poor's o rating de “CC” corresponde a uma capacidade
totalmente vulnerável para cumprimento de negócios financeiros e onde o
incumprimento é provável e o rating de “C” refere-se a situação de
incumprimento actual ou iminente, embora haja alguma possibilidade futura de
cumprimento, ainda que parcial. Estes são os últimos níveis de rating antes
de Moçambique tornar-se num Estado caloteiro.
“Significa
que caiu de mau para péssimo. Numa escala da escola é como se caísse de 5
para 3 valores” explica o professor de economia António Francisco
acrescentando que o nosso país, “desde que começou a ser avaliado pelas
agências de rating acho que nunca esteve tão mau”.
Na
segunda-feira(14) outra importante agência de notação financeira, a Fitch,
havia colocado o rating do nosso país em “Avaliação Negativa” ao tomar
conhecimento da proposta de reestruturação levada pelo ministro da Economia e
Finanças, Adriano Maleiane, que esteve nos Estados Unidos da América e depois
no Reino Unido, a negociar com os credores.
Na opinião
da Fitch, a oferta pode constituir uma “Troca de Dívida Problemática (Distressed
Debt Exchange - DDE, no original em inglês)” de acordo com os critérios da
agência, o que a instituição financeira considera um evento de “incumprimento
(default)”, lê-se no comunicado enviada à investidores.
Por outras
palavras o Governo de Nyusi pretende liquidar a dívida quando começarem a ser
geradas as primeiras receitas dos projectos de Gás Natural Liquefeito que
estão na forja na província de Cabo Delgado.
A primeira
prestação da EMATUM foi paga pelo povo
É
importante os cidadãos trabalhadores e honestos não esquecerem que a EMATUM,
que endividou pelo menos uma geração de moçambicanos em 500 milhões de
dólares norte-americanos junto do banco Credit Suisse, da Suíça, e mais 350
milhões de dólares norte-americanos com o Vnesh Torg Bank, da Rússia, é uma
empresa que foi criada durante o último mandato de Armando Guebuza e tem como
accionistas o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), a
Empresa Moçambicana de Pesca ( Emopesca) e também a sociedade Gestão de
Investimentos, Participações e Serviços, Limitada - uma entidade unicamente
participada pelos Serviços Sociais do Serviço de Informação e Segurança do
Estado (a polícia secreta).
Os
empréstimos, que alegadamente foram destinados a compra de barcos de guerra e
de pesca, só foram concedidos porque o Governo então presidido por Guebuza o
avalizou, porém sem a necessária autorização do Parlamento. “Fixando a Lei
Orçamental o valor limite para a emissão de garantias e avales, por parte do
Governo, em 183.500 mil meticais (pouco mais de 6 milhões de dólares
norte-americanos ao câmbio da altura), observa-se que o Governo, sem a devida
autorização, emitiu avales e garantias no valor total de 28.346.620 mil
meticais”, declarou o Tribunal Administrativo no seu parecer sobre a Conta
Geral do Estado salientando que esse valor nunca entrou nos Cofres públicos.
A primeira
prestação dos empréstimos aos bancos suíço e russo, no valor de 105 milhões
de dólares norte-americanos (77 milhões de dólares da dívida mais 27 milhões
de juros), foram pagas em Setembro de 2015 com fundos do erário. Este ano, e
nos três anos seguintes, a EMATUM, ou o Governo de Moçambique, tem previsto
continuar a pagar os empréstimos no valor anual de 153 milhões de dólares da
dívida, mais os devidos juros. A última parcela, prevista para 2020 está
orçada em 162 milhões de dólares da dívida, mais juros.
Inflação a
subir, metical a enfraquecer
Entretanto,
na semana finda, o Instituto Nacional de Estatística (INE), que apenas
regista o Índice de Preços no Consumidor nos mercados formais das cidades de
Maputo, Beira e Nampula registou uma nova subida da inflação em 2,24%,
ditando o incremento da inflação homóloga e média anual para 12,18% e 4,99%,
respectivamente.
Embora o
INE tenha registado no último mês um ligeiro aumento da confiança empresarial
na realidade a economia está estagnada, os investimentos estrangeiros e
nacionais há muito reduziram, as facturas aguardando pagamento acumulam-se, o
metical continua a depreciar-se em relação ao dólar norte-americano e ao rand
sul-africano, e o dinheiro nos bancos comerciais continua a encarecer.
Cumprindo
as directrizes do Fundo Monetário Internacional(FMI), de “cumprimento da meta
indicativa da Base Monetária de Março de 2016 fixada em 66.443 milhões de
meticais”, o Banco de Moçambique decidiu “manter a taxa de juro da Facilidade
Permanente de Cedência de liquidez em 10,75%; manter a taxa de juro da
Facilidade Permanente de Depósitos em 4,25%; manter o Coeficiente de Reservas
Obrigatórias em 10,5%”, indica um comunicado do Comité de Política
Monetáriada instituição dirigida por Ernesto Gove que em nenhum momento
refere o contributo da Empresa Moçambicana de Atum para a crise económica e
financeira que estamos a viver embora o FMI tenha confirmado no seu primeiro
relatório de 2016 que o “o início dos pagamentos relativos às obrigações da
EMATUM fez duplicar os compromissos relativos ao serviço da dívida em termos
nominais”.
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Primeiros barcos-patrulha comprados através da EMATUM estão a caminho de Moçambique
As primeiras embarcações de guerra adquiridas por Moçambique, através da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), ao estaleiro francês Construções Mecânicas da Normandia (CMN) deixaram o porto de Cherbourg, no noroeste da França, e estão a caminho do porto de Pemba. São três barcos de patrulha HSI 32, parte de um lote que inclui outros três barcos de guerra e 24 embarcações de pesca adquiridas em 2013 pelo Governo de Armando Guebuza ao custo de 350 milhões de dólares norte-americanos mas que endividou, ilegalmente, Moçambique em 850 milhões de dólares norte-americanos.
Os três barcos de patrulha estão a ser transportados para Moçambique num navio de carga, com bandeira holandesa, e deverão chegar ao porto de Pemba a 1 de Fevereiro próximo, de acordo com o sítio de informações marítima Mer et Marine.
Estes barcos de casco de alumínio, os mais modernos da sua geração, são muito rápido tendo passado positivamente pelos testes de 54 nós e foram projectados para vigilância e protecção de zonas marítimas, em particular em acções de anti-pirataria, contra-terrorismo, ou missões para controle de tráfico ilícito.
Os HSI32 tem um alcance aproximado de 800 milhas náuticas, pode acomodar uma tripulação de até 12 marinheiros com autonomia prolongada de três dias e possui uma rampa de lançamento de barcos de borracha insufláveis na popa e uma ponte de 360 °.
Os três barcos de patrulha estão ainda equipado com capacidades de auto-defesa, incluindo um sistema de armas de controlo remoto de 20 milímetros e ainda mais duas metralhadoras 12,7 milímetros com um campo de cobertura de 360 °.
Em termos de guerra electrónica, de acordo com sítio Mer et Marine, o HSI32 vem com sensores de detecção e vigilância avançados que estão integrados com o Sistema de Gestão de Combate.
Aval do Estado ilegal
Recorde-se que em Setembro de 2013 a empresa francesa CMN tornou público o negócio estimado em 350 milhões de dólares norte-americanos que era desconhecido em Moçambique. Entretanto ficou-se a saber que a empresa EMATUM, que não existia nessa altura (a sua escritura só aconteceu no dia 02 de Agosto de 2013), havia-se endividado em 500 milhões de dólares norte-americanos com o banco Credit Suisse, da Suíça, e em mais 350 milhões de dólares norte-americanos junto ao Vnesh Torg Bank, da Rússia, em nome de Moçambique.
Os empréstimos só foram concedidos porque o Estado moçambicano o avalizou sem autorização do Parlamento, e escondendo das Contas Públicas. Em 2013 limite para avales e garantias concedidos pelo Estado foi fixado, pelo artigo 11 da Lei n.º 1/2013, de 7 de Janeiro, em 183.500 mil meticais (pouco mais de 6 milhões de dólares norte-americanos ao câmbio da altura).
“Fixando a Lei Orçamental, como referido atrás, o valor limite para a emissão de garantias e avales, por parte do Governo, em 183.500 mil Meticais, observa-se que o Governo, sem a devida autorização, emitiu avales e garantias no valor total de 28.346.620 mil Meticais”, sentenciou o Tribunal Administrativo no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2013. Nenhum funcionário do Estado ou membro do Governo foi responsabilizado até hoje por esta ilegalidade.
Para adensar a penumbra são accionistas da Empresa Moçambicana de Atum o Instituto de Gestão das Participações do Estado(IGEPE), a Empresa Moçambicana de Pesca( Emopesca) e, a sociedade Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada - uma entidade unicamente participada pelos Serviços Sociais do Serviço de Informação e Segurança do Estado (a polícia secreta de Moçambique).
EMATUM tecnicamente falida
Também grave é o facto do Governo e a EMATUM não terem ainda explicado como foram gastos os 500 milhões de dólares norte-americanos da diferença entre o empréstimo contraído e o custo das embarcações.
O estaleiro francês Construções Mecânicas da Normandia prevê entregar até meados de 2016 os restantes três barcos patrulha, estes do tipo trimaran Ocean Águia 43.
As 24 embarcações de pesca de atum, que estão em Maputo desde meados de 2014, têm sido vistas mais tempo ancoradas no porto do que fora dele o que indicia uma fraca actividade de pesca, (contrariamente as 200 mil toneladas de atum projectadas para serem pescadas por ano a frota só pescou somente 6 mil toneladas), o que poderá contribuir para agravar os resultados negativos e a viabilidade da Empresa Moçambicana de Atum , que no primeiro ano de actividade registou perdas no valor de 25,3 milhões de dólares norte-americanos, e não está a honrar com os seus compromissos junto às instituições bancárias europeias.
A primeira prestação do empréstimo, no valor de 105 milhões de dólares norte-americanos ( 77 milhões de dólares da dívida mais 27 milhões de juros), foi paga em Setembro de 2015 com fundos do erário.
Além dos 850 milhões de dólares da EMATUM outra estatal, a Proindicus, endividou Moçambique em mais 622 milhões
Com o agravamento da crise económica e financeira em Moçambique o Governo de Filipe Nyusi não se cansa de repetir que a culpa é da seca, da chuva, da guerra, dos mercados internacionais... porém em nenhum momento refere-se as dívidas ilegalmente contraídas pelo Executivo anterior. É que para além dos 850 milhões de dólares da dívida da EMATUM, ilegalmente avalizados pelo Estado, existem mais 622 milhões de dólares que foram contraídos em empréstimos, secretamente, por uma outra empresa estatal denominada Proindicus, SA. O pior é que deste 1,47 bilião nem um só dólar entrou no erário e por isso os moçambicanos vão pagar empréstimos que não se destinam à agricultura, educação, saúde ou água potável mas sim foi gasto em negócios que envolvem armas para a guerra.
“(...)Nenhuma economia pode viver e sustentar-se de empréstimos”, afirmou na passada sexta-feira(01) Carlos Agostinho do Rosário, o primeiro-ministro de Moçambique, num encontro onde tentou acalmar os empresários filiados na Confederação das Associações Económicas (CTA), sem no entanto revelar que quem tem endividado o país é o próprio Executivo, ou melhor foram os sucessivos Governos de Armando Emílio Guebuza.
Os moçambicanos que já eram devedores de 850 milhões de dólares norte-americanos, aos bancos Credit Suisse e Vnesh Torg Bank, através de empréstimos contraídos pela Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM) - uma empresa que tem como accionistas o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), a Empresa Moçambicana de Pesca ( Emopesca) e também a sociedade Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada, uma entidade unicamente participada pelos Serviços Sociais do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) -, e avalizados ilegalmente pelo Executivo de Guebuza, são agora confrontados com mais dois empréstimos, concedidos pelos mesmos bancos suíço e russo, no valor global de 622 milhões de dólares norte-americanos.
De acordo com o The Wall Street Journal os empréstimos foram concedidos no ano de 2013 à empresa Proindicus SA, para a compra de navios para a marinha e radares para a protecção contra a pirataria marítima.
A Proindicus é uma Sociedade Anónima (SA), constituída a 21 de Dezembro de 2012, e que tem por objecto a “concepção, financiamento, implementação e gestão de sistemas integrados de segurança aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre; Consultoria, Procurement e fornecimento de equipamentos e acessórios; Prestação de serviços na área de segurança de infra-estruturas; e prestação de serviços na área de navegação aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre”, de acordo com o Boletim da República da III série, número 2 de 8 de Janeiro de 2013.
Embora os accionistas da Proindicus sejam anónimos o @Verdade apurou que 50% desta empresa são detidos por uma outra Sociedade Anónima, a Monte Binga, que se identifica no seu sítio na internet como sendo “uma holding detida 100% pelo Estado Moçambicano”. O Estado é o único accionista da Monte Binga desde 2009, através do IGEPE.
O @Verdade apurou ainda que outro accionista anónimo da Proindicus é Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE).
Não são conhecidos os contornos destes empréstimos contraídos pela empresa estatal Proindicus SA porém, segundo o The Wall Street Journal, deverão ser pagos na totalidade até 2021.
EMATUM + Proindicus representam o triplo do orçamento da Saúde e quatro vezes mais da Agricultura
Em meados de Março a agência notação financeira Standard & Poor's a baixou o rating de crédito soberano de longo e curto prazo em moeda estrangeira atribuído à Moçambique para o nível de quase incumprimento após considerar que as perspectivas económicas do nosso país são “negativas”.
Essa decisão foi tomada numa altura em não se sabia da existência destas dívidas contraídas pela Proindicus. Nem mesmo os bancos Credit Suisse e Vnesh Torg Bank revelaram a sua existência aos seus clientes que, tudo indica, aceitaram renegociar os títulos de dívida corporate com garantia soberana do Estado e emitidos pela EMATUM Finance B.V.(uma empresa com sede na Holanda) por obrigações do tesouro moçambicano emitidas em dólares norte-americanos e com taxa fixa de juros com maturidade em 2023.
Embora o Estado assuma a dívida da EMATUM nenhum dos 850 milhões de dólares norte-americanos entrou nos cofres do tesouro moçambicano, além disso os barcos de pesca, e também de combate anti-pirataria, que o estaleiro francês Construções Mecânicas da Normandia vendeu custaram apenas cerca de 350 milhões de dólares norte-americanos o que levanta a dúvidas sobre a quem beneficiou, ou para que fim foram usados, os cerca de 500 milhões de dólares norte-americanos restantes.
Relativamente aos 622 milhões de dólares norte-americanos emprestados à Proindicus SA o mistério sobre o seu uso é ainda maior.
Entretanto, desde 2013 são visíveis os novos carros blindados alocados às Forças de Defesa e Segurança. Um agente das Forças Especiais moçambicanas relatou recentemente ao @Verdade e SAVANA que armamento novo tem sido recebido citando quantidades não especificadas de canhões ZU23, armas de precisão Dragunov, metralhadoras Pecheneg , metralhadoras AK-47 e respectivas munições.
Por ironia do destino nesta segunda-feira(04) o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades revelou que 1,4 milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, devido à seca, e que o Governo necessita de 13 milhões de dólares norte-americanos para responder à fome, menos de metade só dos juros pagos pela primeira prestação da dívida da EMATUM, que custou ao erário, em Setembro passado, 105 milhões de dólares norte-americanos (77 milhões de dólares da dívida mais 27 milhões de juros).
A título comparativo a dívida da EMATUM e da Proindicus, que totaliza 1,47 bilião de dólares norte-americanos, é o triplo do Orçamento de Estado previsto para Saúde este ano e cerca de quatro vezes mais o valor destinado à Agricultura e Segurança Alimentar.
Na Assembleia da República, os deputados do partido Frelimo têm impedido a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a Empresa Moçambicana do Atum. Entre os deputados do partido que governa Moçambique há mais de 40 anos estão alguns dos responsáveis por estas negociatas ilegais.
O que será que o povo patrão vai fazer? Provavelmente apertar mais o cinto e continuar a deixar que o seu empregado, e camaradas, continuem tranquilamente a delapidar a chamada “pérola do Índico”.
O caso Ematum. O que se passa em Moçambique?
Moçambique
admitiu esta semana que escondeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) um
montante superior a mil milhões de dólares de dívida externa. A instituição viu
nesta atitude do governo moçambicano um “primeiro passo importante”, mas o
reconhecimento de culpa não foi suficiente para demover o FMI de cancelar o
pagamento da segunda tranche de um empréstimo de 285 milhões acordado no ano
passado. O que se passa em Moçambique?
O “Caso
Ematum” estalou quando a Economist Intelligence Unit (EIU), a unidade de
análise da revista britância The Economist, revelou que os números oficiais do
Ministério das Finanças moçambicano sobre o montante de dívida pública não
refletem os empréstimos da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) e da
Proindicus, duas empresas públicas.
Dívida
pública oficial não contabiliza obrigações da Ematum nem o empréstimo da
Proindicus
Segundo os
dados oficiais, a dívida pública moçambicana aumentou 31% em relação ao ano
anterior. Contudo, referem os analistas da EIU, este aumento não inclui dois
aspetos essenciais: as obrigações de dívida emitidas pela Ematum em 2013, no
valor de 850 milhões de dólares, e o empréstimo de 622 milhões de dólares
contraído pela Proindicus, também em 2013 e até agora nunca divulgado pelo
governo moçambicano.
Ora, esta
emissão de 850 milhões de dólares serviria, oficialmente, para arrancar com a
Ematum, mas terá sido canalizada, essencialmente, para gastos com defesa.
Segundo o portal moçambicano Verdade, os barcos de pesca comprados
pela Ematur custaram 350 milhões de dólares, não se sabendo em que foram
utilizados os restantes 500 milhões.
Entretanto,
este mês, estas obrigações foram renegociadas pelo Estado moçambicano para
transformar o remanescente da dívida em títulos de dívida soberana de
Moçambique.
Perante
estes factos, os analistas da EIU questionaram a “transparência orçamental de
Moçambique”, levantando dúvidas sobre o montante de dívida pública do país.
Poucos dias
depois, nova polémica: de acordo com o Financial Times, além das obrigações da
Ematum e do empréstimo à Proindicus, houve ainda um terceiro empréstimo a uma
empresa pública, não nomeada, num valor superior a 500 milhões de dólares.
O valor da
dívida pública não declarada de Moçambique ascende a mais de 1,8 mil milhões de
dólares
O balanço:
com os cerca de 700 milhões de dólares em dívida soberana que substituíram as
obrigações da Ematum, o empréstimo de 622 milhões à Proindicus e estes 500
milhões a outra empresa pública, o valor da dívida pública (não declarada) ascende
a mais de 1,8 mil milhões de dólares.
E o
resultado: o FMI cancelou uma visita a Moçambique programada para esta semana,
bem como o pagamento de 155 milhões de dólares, que seriam a segunda tranche de
um empréstimo de 285 milhões acordado no ano passado, e os juros da dívida soberana de Moçambique dispararam para o
máximo histórico de 14%.
O que são a
Ematur e a Proindicus?
No centro da
polémica está, em primeiro lugar, a empresa pública Ematum. A empresa de pesca
de atum foi fundada em 2013, com capitais públicos e privados, contando com um
capital social de 15 milhões de meticais (à volta de 251 mil euros). O
Instituto de Gestão das Participações do Estado moçambicano detém 34% da
empresa; a Empresa Moçambicana de Pesca detém 33%; e a Gestão de Investimentos,
Participações e Serviços detém outros 33%.
No final de
2014, o último para o qual há dados disponíveis, a empresa reportou lucros de
850,54 milhões de meticais (14,2 milhões de euros). Porém, nesse período, o
passivo da Ematum, entre empréstimos contraídos e pagamento de impostos
diferidos, ascendia a 36,5 mil milhões de meticais (611,6 milhões de euros).
Já a
Proindicus, constituída em 2012, tem por objeto a “conceção, financiamento,
implementação e gestão de sistemas integrados de segurança aérea, espacial,
marítima, lacustre, fluvial e terrestre”, entre outras áreas relacionadas com
segurança.
Os
acionistas da Proindicus são anónimos. Segundo o Verdade, 50% do capital desta
empresa é detido por uma outra sociedade anónima, a Monte Binga, um holding
controlada a 100% pelo Estado moçambicano. O Estado é acionista da Monte Binga
através do IGEPE.
Um mercado
que “continua a fazer todo o sentido” para Portugal
“É
provavelmente um dos piores casos de entrega de dados errados por parte de um
governo que o FMI viu num país africano nos últimos tempos”. É assim que uma
fonte do FMI descreve ao Financial Times a omissão do governo moçambicano. Para
a mesma fonte, Moçambique está mesmo “à beira de uma crise financeira se as
autoridades não tomarem medidas para lidarem com os riscos atuais”.
Para as
empresas portuguesas, esta situação não representa, contudo, e pelo menos para
já, motivo para preocupação.
A Portucel é
uma das empresas que mais investe em Moçambique. O investimento total da
empresa de produção de pasta de papel deverá ascender a 3 mil milhões de euros
(2,7 mil milhões de euros), sendo que é um projeto de muito longo prazo, com
duas concessões, ambas de 50 anos. Precisamente por ser um projeto de muito
longo prazo, “não está dependente das questões atuais”, refere ao Dinheiro Vivo
fonte ligada ao mercado.
Ao mesmo
tempo, e ainda que, obviamente, seja preferível atuar num mercado cuja economia
está a crescer, a verdade é que o abrandamento da economia moçambicana não tem,
no curto prazo, um impacto negativo sobre a empresa; pelo contrário. “Quando a
economia está pujante e há grandes empresas a contratar, os salários disparam”,
aponta a mesma fonte.
E há ainda
um terceiro aspeto: “No imediato, o projeto da Portucel até ganha interesse
para o governo moçambicano, uma vez que outras empresas já estão a sair e a
reequacionar investimentos, enquanto a Portucel está lá para ficar durante 100
anos”.
Neste
contexto, fica claro que a situação de Moçambique “não altera em nada” a
estratégia da Portucel e o país “continua a fazer todo o sentido” em termos de
investimento.
O grupo Vila
Galé não tem qualquer unidade em Moçambique mas, há dois anos, manifestou a
intenção de investir no país. Na altura, Gonçalo Rebelo de Almeida,
administrador do grupo hoteleiro, adiantou que a ideia seria inaugurar um
unidade em Maputo. “Seria um hotel de cidade e há dois modelos em aberto:
comprar ou arrendar um edifício que será construído”, disse então ao jornal
Sol.
Desde então,
não há grandes novidades sobre este mercado, mas Gonçalo Rebelo de Almeida
admite ao Dinheiro Vivo que o interesse por Moçambique se mantém,
independentemente dos acontecimentos das últimas semanas. “Existem conversações
preliminares com um parceiro local que pretende fazer um investimento na
construção de um hotel e depois fazer um contrato de gestão com a Vila Galé
para essa unidade”, detalha.
Os juros exigidos pelos investidores para transacionarem os títulos de dívida soberana de Moçambique bateram o recorde de 14%.
Os juros exigidos
pelos investidores para transacionarem os títulos de dívida soberana de
Moçambique bateram o recorde de 14%, no dia em que o país assumiu ter mais de
mil milhões de dólares em dívida escondida. A taxa de juro que os investidores
estão a cobrar para transacionarem os 727 milhões de dólares (640 milhões de
euros) em títulos de dívida soberana, com maturidade em janeiro de 2023, subiu
pelo quinto dia consecutivo, para 14,08%, o que compara com os 12,72% da última
quinta-feira, o dia anterior à declaração do Fundo Monetário Internacional
(FMI) sobre a existência de dívida escondida.
O valor dos
títulos caiu 6,3% desde que teve um pico a 13 de abril, uma semana depois de
terem sido emitidos, e a desvalorização é mais significativa tendo em conta que
nesse período a média da evolução dos títulos de dívida dos mercados emergentes
regista um ganho de 0,3%, de acordo com os cálculos feitos pela agência
financeira Bloomberg.
“O preço
caiu por causa das notícias sobre a existência de mais empréstimos não
divulgados”, comentou o gestor de fundos Marco Ruijer, da NN Investment
Partners, em Londres, que tem a seu cargo a administração de mais de 7 mil
milhões de dólares em títulos de dívida dos mercados emergentes. “Eles não
anunciaram alguns empréstimos ao FMI antes e isso é realmente uma coisa má.
Agora o mercado está volátil. Tudo o que podemos fazer é ver o que os números
vão dizer”, acrescentou o gestor, citado pela Bloomberg.
Moçambique
fez a sua primeira emissão de títulos de dívida em moeda estrangeira
(‘eurobonds’) este mês, oferecendo aos investidores a possibilidade de trocarem
as obrigações da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) por títulos de dívida
soberana com uma taxa de juro anual maior e uma maturidade mais alargada. Na
sequência deste operação e da descida de ‘rating’ das três principais agências
de notação financeira, foi divulgado pelo Wall Street Journal a existência de
outro empréstimo de 622 milhões de dólares à estatal Proindicus, e na
terça-feira o Financial Times acrescentou que havia pelo menos mais, superior a
500 milhões, que também não foi reportado ao FMI.
O primeiro-ministro
moçambicano reconheceu na terça-feira à noite que o FMI não tinha sido
informado sobre um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de
Moçambique, revelou o organismo, que vê nesta atitude um “primeiro passo
importante”. Carlos Agostinho do Rosário reuniu-se com a diretora-geral do
Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na terça-feira, em
Washington.
“O primeiro-ministro de Moçambique reconheceu
que um montante superior a mil milhões de dólares de sua dívida externa
garantida pelo Governo não havia sido anteriormente divulgado ao Fundo”,
informou o FMI, numa nota enviada à agência Lusa. Segundo o Fundo, Christine
Lagarde recebeu a divulgação destas informações por parte das autoridades
moçambicanas como um “primeiro passo importante”. Moçambique vai fornecer mais
informações e documentação de apoio ao longo dos próximos dias para que se
poderem “apurar os factos e permitir que o Fundo efetue uma avaliação
completa”, destacou o FMI. “O Fundo e Moçambique vão trabalhar juntos de forma
construtiva para avaliar as implicações macroeconómicas dessas informações e
identificar passos para restaurar a confiança”, lê-se ainda na nota enviada à
Lusa.
Referência Bibliográfica
↑. http://verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57164-ha-esquadroes-de-morte-para-abater-opositores-revela-agente-da-policia-da-republica-de-mocambique, Jornal @Verdade do dia 11 Março 2016 (Actualizado em 13 Março 2016).
↑. http://verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57220-por-causa-da-ematum-mocambique-esta-a-beira-de-tornar-se-num-estado-caloteiro, Jornal @Verdade do dia 16 Março 2016.
↑. http://verdade.co.mz/destaques/democracia/56495-primeiros-barcos-patrulha-comprados-atraves-da-ematum-estao-a-caminho-de-mocambique, Jornal @Verdade do dia 15 Janeiro 2016.
↑. http://verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57443-alem-dos-850-milhoes-de-dolares-da-ematum-outra-estatal-a-proindicus-endividou-mocambique-em-mais-622-milhoes, Jornal @Verdade do dia 05 Abril 2016 (Actualizado em 11 Abril 2016).
↑. http://msn.com/pt-pt/financas/negocios/o-caso-ematum-o-que-se-passa-em-mo%C3%A7ambique/ar-BBs3lg6?li=BBoPWjC&ocid=SK2MDHP, MSN, Publicado no dia 21 de Abril de 2016.
↑. Veja mais em: http://dinheirovivo.pt/economia/juros-da-divida-mocambique-batem-recorde-14/#sthash.1siD0OIj.dpuf,
Dinheiro Vivo.
↑. Veja mais
em: http://dinheirovivo.pt/economia/juros-da-divida-mocambique-batem-recorde-14/#sthash.1siD0OIj.dpuf,
Dinheiro Vivo.
↑. Veja mais
em: http://dinheirovivo.pt/economia/juros-da-divida-mocambique-batem-recorde-14/#sthash.I8wrV2dS.dpuf,
Dinheiro Vivo.
↑. http://dinheirovivo.pt/economia/juros-da-divida-mocambique-batem-recorde-14/,
Dinheiro
Vivo/Lusa, artigo publicado no dia 20.04.2016 .
Marcadores: Economia, Moçambique
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