4/21/2016

Os piores Momentos da economia moçambicana



Há esquadrões de morte para abater opositores, revela agente da Polícia da República de Moçambique

Uma das frentes mais activas do conflito político-militar, que decorre há vários meses em diversas regiões de Moçambique, acontece no distrito de Murrupula, na província de Nampula, norte de Moçambique, onde oficialmente um contingente da Polícia da República de Moçambique(PRM) foi enviado para a localidade de Naphuco para repor a ordem, alegadamente perturbada por homens armados da Renamo, e um agente terá sido raptado. Na verdade, um esquadrão de elite das forças governamentais foi enviado para o local.
“(...)fizemos uma defesa circular, em que todos parámos e concentramos o fogo. Mas sem esperar que aqueles podiam responder, porque nós fomos de madrugada. Quando responderam cada um correu à sua maneira e ele ficou”, relata um agente das forças especiais da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia da República de Moçambique (PRM), que revela ainda ter realizado várias "missões" de eliminação de alvos previamente identificados pelos comandantes, uma das quais a 25 de Setembro de 2015, em Zimpinga (41 quilómetros a leste de Chimoio na Estrada Nacional Número 6, entre Gondola e a Missão de Amatongas ), onde a ordem era eliminar fisicamente Afonso Dhlakama, líder da Renamo. “Aquele velho (Dhlakama) não morre”, disse.
Leia a seguir um relato arrepiante, feito por quem diz ter participado e por isso testemunha. “Estamos cansados. Não ganhamos nada e estamos a sonhar com aquilo”, diz o agente. O referido agente, cuja identidade não revelamos, nasceu na cidade de Maputo em 1985.
“Cumpri a tropa no Centro de Formação de Forças Especiais de Nacala Porto”, diz o agente. “Estava lá como Instrutor Auxiliar de Armamento e Tiro”. Cumprido o serviço militar, e depois de algum tempo em que trabalhou para uma empresa privada de segurança, foi incorporado nas fileiras da PRM. “Entrei para a polícia; fizeram uma seleção. Queriam aqueles que tinham sido militares e que tivessem feito o curso de armamento, para serem da Intervenção Rápida, mas estando na Presidência da República. Trabalhei na RP1 e na RP2”, diz ele. RP é a sigla para Residências Protocolares pertencentes à Presidência da República.
P – Qual é o seu percurso até chegar às Forças Especiais?
Agente – Fui militar das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Comecei a minha formação militar na Catembe, na Escola de Fuzileiros Navais. Depois fiquei dois anos à procura de emprego, até ser incorporado na polícia. Aqueles que foram à tropa não podem ser cinzentinhos; têm que pertencer às forças especiais. Fui fazer outra formação de anti-motim, de controlo de multidões, no caso de greves. Essa formação anti-motim é uma especialidade, Força de Intervenção Rápida é outra. Intervenção Rápida é uma força tipo bombeiro, que aparece para resolver um problema e acabar. Então, porque é que levam os que foram à tropa? É Porque estes sabem disparar vários tipos de armas. Por exemplo, eu sei disparar cerca de 26 tipos de armas. Esses das esquadras só sabem disparar pistola e AKM. Por isso é que aqueles que estiveram na tropa não pode estar numa esquadra; têm de estar num quartel, então nós temos uma dupla função; operamos como militares e como polícias também.
P – Em que ramo da corporação está afecto?
Agente – Sou agente da Polícia, da Unidade de Intervenção Rápida. Estive a trabalhar na Presidência da República. Fiz curso de franco atirador. Vocês não sabem o que existe aqui, guerra existe só que nas cidades não há guerra.
P – Onde e desde quando é que há guerra?
Agente – Estava na escolta presidencial, mas fui destacado para Nampula porque precisavam de franco-atiradores lá para operar as armas pesadas que estão lá; canhões novos de fabrico russo ZU 23. Já existiam do mesmo tipo antigas, mas recentemente chegaram novas. Só na posição de Gorongosa, onde estive em 2012 e 2015, existiam pelo menos oito. Éramos uma força conjunta que estávamos lá a realizar tiros com Dragunov, essa é uma arma que usamos para procurar as pessoas indicadas e abater, porque temos tido esse trabalho.
P – Que trabalho é esse, com quem você realiza?
Agente – Somos mais ou menos um pelotão de 20 especiais. Quando começou aquele problema em Gorongosa, em 2011, fizemos uma reciclagem e a primeira missão foi em 2012. Nós vamos lá quando a situação não está nada bem. Primeiro, tem pessoas que avançam para lá e quando a situação não está nada bem chamam os atiradores de armas pesadas para chegar e destruir. Nós é que entramos lá e matamos aquele comandante que diziam que era anti-bala; aquele morreu com canhão em Muxúnguè.

P – Que outras missões em que você esteve envolvido?
Agente – Nós ficamos no quartel, mas eles nos chamam, e dizem vão para a província x. Saímos daqui de avião, e lá apanhamos viaturas dos comandos provinciais. O que me deixa revoltado é que o meu trabalho é combater a criminalidade, manter a ordem e tranquilidade públicas. A polícia não é para matar; é para apanhar a pessoa, isolar e entregar à justiça para ser ouvida e de lá darem seguimento. É o que nós entendemos. Mas aqui neste nosso país alguém pode chegar, dar ordens para entrar no carro, e nós só temos que cumprir ordens. Ninguém vai aparecer a dizer que não quero, porque há consequências. Vinham com a foto e diziam que “está aqui, vão mata-bichar e aí onde vão mata-bichar virá alguém, então aquele que vier, mesmo primeiro isolam o guarda-costas dele porque virá acompanhado”. Dão toda a informação que “este virá acompanhado, o nome não vamos vos dizer mas é esta pessoa na foto e deve ser abatido”.
P – Então, as missões não são só contra os homens armados da Renamo?
Agente – Em Maputo nunca usamos armas contra militares. Conforme eu disse, dão-nos a foto e depois são vão ouvir que um desconhecido foi encontrado morto na zona x, como se tivesse sido um assalto.
P – Quer dizer que também operam nas cidades?
Agente – Na cidade da Beira, mas onde trabalhei mais foi em Nampula. Em Nampula já seguimos um Nissan Navarra branco dupla cabine, com matrícula vermelha. Seguimo-lo desde o hotel, no centro da cidade, fomos via Cipal, um pouco depois da Faina, contornou para a estrada Nampula-Cuamba, e era ali mesmo que o queríamos. Passamos o mercado Waresta, fomos até antes de Namina, tem o distrito de Ribáuè, quando saímos de Rapale tem uma grande distância de mato. O nosso primeiro carro, um Prado preto, ultrapassou e atrás estava outro Prado, ele praticamente ficou no meio. Furámos o pneu de frente, ele perdeu a direcção e foi parar perto da linha férrea. Nós queríamos um que estava atrás, a mexer o telefone, um saiu e queria responder o fogo mas levou na cabeça. O responsável e o motorista também quando iam sair, atiramos mortalmente. Ficaram ali.”
P – Que outras missões de que se recorda?
Agente – Há bocado fomos a Manica, tivemos um trabalho, só que lá fomos à paisana. Recebemos a foto da pessoa que nos disseram que devia ser abatida. Nós não conhecemos bem as pessoas (a serem abatidas). Eles trazem e dizem “vão até à zona x, vai passar alguém”, dão nos a informação toda da pessoa (vestuário, carro), dizem para persegui-la até uma zona onde a polícia não estará lá.
P – Já realizou alguma missão contra Afonso Dhlakama?
Agente – Já, só que aquele também é drogado. Para o líder da Renamo, primeiro lhe tentamos no distrito de Moma, mas o falhamos. Em Manica agora, só que aquele senhor não morre.
P – Quer dizer que o vosso pelotão estava em Manica atrás de Afonso Dhlakama?
Agente – O trabalho ali foi assim; mandaram-nos para lá alguns dias antes. Fomos recebidos por um dirigente (nome omitido). Primeiro eles (o líder da Renamo e a comitiva) estavam num comício, a força da escolta que estava lá dava-nos informações. Quem organizou aquilo, quem nos estava a dar refeições, em que sítio nós dormimos em Manica, o responsável dizia, “que tal hoje não pode falhar nada”.
P – Mas falharam...
Agente – Não falhamos. Muitos morreram, mas aquele velho (Dhlakama) não morre, desapareceu. Ali tem montanhas, nós ficamos na parte alta, não podiam ir outros colegas lá em baixo porque senão podia haver fogo cruzado, naquilo de que o carro que passasse havia de levar, porque não estávamos com armas ligeiras; usamos armas próprias para estragar carros. Pusemos ali a mira, sabíamos que Dhlakama vinha, porque estavam no comício e de lá ligavam para o nosso comandante a avisar que daí a pouco tempo Dhlakama havia de passar, que já partiu, alimentem as armas, e posicionamo-nos com as metralhadoras, mas não sei como é que é possível um carro passar a poucos metros e não ser atingido. Vários morreram ali mas Dhlakama conseguiu sair. Ainda perseguimos mas eles responderam.
P – Quem é que deu as ordens para essas missões em que você participou?
Agente – Sabe, aqui em Moçambique tem pessoas que nunca são mencionadas, de quem nunca se fala. Quando há problemas, sempre fala a polícia, os militares, mas há uns que sempre ficam por detrás disso: SISE(Serviços de Informaçao e Segurança do Estado). São grandes, têm informação de tudo isto aqui.
P – Só actuaram em Nampula, Manica e Sofala?
Agente – Realizamos missões de porta-à-porta na província de Sofala, nos distritos de Caia, Marromeu e Gorongosa. Chegávamos, batíamos à porta, e aqueles que saiam eram mortos. Obtemos informação dos líderes comunitários; são eles que nos informam sobre a presença de homens da Renamo numa determinada região.
P – Onde é que foi a missão mais recente?
Agente – Eu fui chamado para Murrupula, em Nampula, em Janeiro de 2016. Porque conforme já disse, os líderes comunitários conseguem observar os movimentos nas aldeias, e verificar a chegada de pessoas ou grupos estranhos. Então, chamaram-nos para lá. Não permanecemos lá; ficamos num hotel, como civis, à espera de indicações para irmos trabalhar”.
P – Que tipo de trabalho foi esse?
Agente – Há uma base da Renamo numa aldeia, é uma coisa de 42 quilómetros depois da Estrada Nacional. Deixamos os carros para não provocar ruído. É uma zona onde não entram frequentemente carros; os únicos carros que vão para lá vão à procura de carvão e lenha. Nós fomos a pé. Mesmo agora que estou a falar tem lá forças pertencentes à 6ª Unidade da Intervenção Rápida, tentando resgatar um homem que desapareceu com a sua arma.
P – Está a falar de um vosso colega que desapareceu? Como é que desapareceu?
Agente – Nós fomos lá e identificamos uma base da Renamo. Fizemos uma defesa circular, em que todos paramos e concentramos o fogo, mas sem esperar que eles pudessem responder, já que era de madrugada. Quando responderam fogo cada um correu à sua maneira e ele ficou, tinha uma metralhadora PK de 475 munições (é uma metralhadora Kalashnikov russa vulgarmente conhecida por PK), tinha dois carregadores. Depois o Comandante ligou e disse que queria o esse elemento vivo ou morto, e com a sua arma.
P – Como é que vocês comunicam com os líderes comunitários?
Agente – Todos os líderes comunitários, nas províncias, trabalham com as forças governamentais; eles dão informação. Têm a missão de vigiar na aldeia, e informar sobre a presença de elementos da Renamo; quem são os responsáveis, quem são os delegados, etc. Então nós chegamos, batemos a porta e levamos a pessoa.
P – Então, está a dizer que os homens armados da Renamo vivem no meio das populações?
Agente – Eles (os homens armados da Renamo) vivem muito bem com a população, e a população não denuncia.
P – Esses homens armados da Renamo são jovens?
Agente – Dos que já capturamos nunca vi jovens. Aqueles jovens que aparecem a entregar-se como membros da Renamo são informadores. Muitos daqueles que se entregam estão a ser chantageados e agora estão a ter problemas para regularizar os documentos. Muitos nem são guerrilheiros.

“Em Tete é que foi mais vergonhoso porque o comandante que estava lá em frente disse queimam lá”
P – Quantos homens armados da Renamo estavam em Murrupula?
Agente – Não sabemos quanto são, porque muitos não andam fardados, eles vivem com a população. Eles nunca foram a uma aldeia e começarem a disparar. A Força de Intervenção Rápida é que queima escolas, se não sabiam. Nós quando íamos atacar, quando entrávamos numa aldeia, começávamos a disparar de um lado para o outro, e todos fugiam. O comandante ligava e dizia que “os homens da Renamo fizeram isto aqui”, e logo vinham ordens superiores a dizer “destruam isso aí”.
P – Então, quando as populações fogem porque dizem estarem a ser atacadas pelas Forças Governamentais não estão mentir?
Agente – Não estão a mentir. Em Tete é que foi mais vergonhoso porque o comandante que estava lá em frente disse queimam lá essas palhotas, matem os cabritos, bois e outros animais.
P – Quem foi esse comandante?

Agente – O comandante é (nome omitido). Ele teve problemas de tráfico de drogas. Foi condenado mas não cumpriu a pena, foram lhe tirar quando começaram essas confusões e foi colocado como comandante em Nampula. Quando começou a instabilidade em Nampula foi-se instalar a Intervenção Rápida na rua dos Sem Medo, e foi aí que tudo começou. Aquele Dhlakama tem medo dele, e do (nome omitido), mais conhecido por Adolfo, foi comandante dos comandos, um desertor da Renamo. Quem anima cumprir missões com ele é o comandante (nome omitido), porque nas missões que ele comanda não morre ninguém. Agora, ir com o comandante (nome omitido) morre o próximo dele, porque aquele no mato não tira a mão do bolso e não é atingido pelas balas. O comandante (nome omitido) foi comandar em Nampula, então aqueles (Afonso Dhlakama e os seus homens) fugiram para a Gorongosa, ele foi atrás deles como comandante do batalhão independente de Gorongosa, até agora.
P – Então o comandante (nome omitido) está em Sofala ou em Tete?
Agente – Esse (nome omitido) está em Gorongosa, mas é chamado em todo o sítio onde há confusão, por isso mandaram-lhe para Tete. Fomos juntos para lá, entre Maio e Setembro.
P – Além do vosso pelotão existem outros que realizam essas missões?
Agente – Não é o único. Outros estão espalhados pelas províncias.
P – E existe armamento?
Agente – Têm carros blindados novos com canhões. Chegaram novos carros na brigada montada, foram buscar ao porto de madrugada já estão aí homens a serem formados. Há canhões ZU23, armas de precisão Dragunov, e metralhadoras Pecheneg , todas de fabrico russo.

“No dia em que fomos roubar votos em Nampula, em 2014”
P – Porque é que decidiu revelar-nos tudo o que tem feito?
Agente – Tenho filhos por criar, e aquele trabalho me está a criar perturbações mentais. Desde que esta confusão da Renamo começou as pessoas estão a morrer. Fui fazer outra formação anti-motim, de controlo de multidões, no caso de greves. Não é para isto que nós juramos. É por isso que alguns já foram expulsos, por se recusarem a cumprir certas missões. Por exemplo, somos chamados para uma formatura, e daqui para a aqui, nos dizem, “senhores, entram no carro, levem bazucas”. Bazucas não são para o controlo anti-motim. Para debelar um motim precisa-se de pressão de ar e gás lacrimogéneo. Agora, quando te dizem para levar roquetes isso é guerra, e para mim não faz sentido.
P – Também já participou em manifestações? Porque é que levam armas com balas verdadeiras?
Agente – Quando se vai a um sítio para se manter a ordem contra um motim só tinha que ser com gás lacrimogéneo e pressão de ar, mas leva-se Makarov, leva-se AKM para com o gás lacrimogéneo afugentar a multidão e fazer demonstração. Em todas as manifestações tem que se fazer demonstração, tem que cair pessoas para aquilo parar, é como temos feito. Para as pessoas saberem que a próxima bala pode ser para mim, é aquilo que nós chamamos de demonstração.
P – Quer dizer que há entre vós um sentimento generalizado de revolta?
Agente – Uma das razões é que estamos a fazer um trabalho que não corresponde com aquilo porque nós juramos e também porque não nos pagam horas extras, porque nós somos solicitados a altas horas da noite ou de madrugada. Estamos a fazer coisas que não são aquilo que a lei manda. Até aí os nossos chefes ... nós pensamos que eles recebem mas não nos dão.
P – Qual foi a sua primeira operação?
Agente – A minha primeira operação foi em Nampula, na Rua dos Sem Medo, naquele ataque à residência de Afonso Dhlakama, na Rua das Flores. Íamos lá com ordens do Comandante (nome omitido); ele era o Comandante Provincial. Ele agora foi substituído pelo (nome omitido).
P – Quantos são vocês no vosso grupo?
Agente – Estou num grupo separado porque tem um grupo normal da Intervenção Rápida, e tem o grupo de acções especiais, que é o meu grupo. No meu grupo somos cerca de 50.
P – E o vosso alvo são os homens armados da Renamo?
Agente – É o que pensávamos, mas mais tarde fomos ver que não só eram eles porque há certos dias que vinham com fotos para fazermos certos trabalhos, mas só que aqueles já não aparentavam ser homens da Renamo.
P – Em Nampula?
Agente – Nampula é o sítio onde havia mais problemas. Porque para acabar aquilo ali em Nampula teve que se fazer o trabalho de porta a porta. Porque os líderes comunitários tinham o seu papel de identificar as pessoas; quem é o líder, quem é o delegado da Renamo. Então a gente ia lá... sem o líder, o líder só dizia aos homens do reconhecimento e o reconhecimento não abate quem abate somos nós das operações especiais.
P – Os teus colegas também estão descontentes?
Agente – Lá há muito descontentamento. Só que ali não se pode fazer o que... no meio de muitos estar a murmurar porque ali há muita gente que quer subir na base do outro. Pode ir dar informação.. uma informação dali dentro vale muito. Então ali há muito risco. O dinheiro é pouco, mas o risco é grande. Nós temos todas as provas que podem implicar muitos comandantes, porque são eles que dão as ordens.
P – Não teme represálias?
Agente – Para eu tomar a decisão de falar sobre isto é porque eu acabava de cumprir uma missão. Acabava de fazer um trabalho que todos nós saímos a murmurar; saímos mesmo mal, lesados, fomos atirar nas pessoas e nós saímos lesados. Fomos atirar mesmo nas pessoas.
P – Que operação foi?

Agente – Tivemos um trabalho... primeiro fomos a Tete. Então vinha um D4D, nós estávamos num sítio ali. Saímos com uns carros Prados fomos até a um sítio numa sombra onde tomamos refrescos e sumos. Apareceu um agente do SISE e disse a foto é esta aqui; uma foto bem grande. Este aqui quando aparecer vocês hã de ver; o movimento só hão de ver. De facto, ninguém nos disse. Vimos ele a vir primeiro já guarda costas ele estava no meio, e notou-se que este estava protegido. Saímos com ele, seguimos. O nosso carro avançou primeiro, ficou um outro Prado porque eram quatro Prados; ficou um Prado atrás um outro adiantou. Quando ele vinha foi bloqueado. Primeiro atiramos contra o ADC. O ADC deu um tiro para o ar mas ele foi atingido mortalmente. Logo que ele fez aquilo o carro foi bater num arbusto, e ele (o alvo) quando tentou sair foi mesmo à queima roupa. Daí saímos e apanhamos o voo e voltamos para Maputo.
Outro dia já fomos a Nampula fardados. Nós não fazemos isto porque gostamos de guerra. Não ganhamos nada. Vale a pena eles, ganham porque quando a gente mata, eles rebocam gado nos camiões; por exemplo, o meu comandante, o carro que está a andar com ele, é por causa daquele gado que se levou lá em Gorongosa. Nós não levamos nada. E um comandante lá também foi bem chantageado porque o dia que fomos queimar, tivemos ordens de queimar motorizadas, aquelas todas motorizadas da Renamo, nós a incendiar ele levou isolou aquela mota foi andar com ela, até hoje está a andar com aquela mota, Badjadja, uma mota vermelha, sem matrícula até... Comandante (nome omitido).
P – Esta Unidade de Intervenção Rápida onde você está já participou em manifestações? Porque levam armas com balas de verdade?
Agente – Quando se vai num sítio para se manter a ordem de motim só tinha que ser com gás lacrimogéneo e pressão de ar, mas leva-se makarov, leva-se AKM para com o gás lacrimogéneo afugentar e fazer demonstração. Todas manifestações tem que se fazer demonstração, tem que cair pessoas para aquilo parar, é como temos feito. Para as pessoas saberem que a próxima bala pode ser para ti, é aquilo que nós chamamos de demonstração.
P – Pode revelar-nos uma situação de motim onde usaram balas reais?
Agente – No dia em que fomos roubar votos em Nampula, em 2014. Ali na escola de Belenenses, escola secundária 12 de Outubro, escola secundária de Nampula, fomos de voo com homens do SISE, homens encasacados. Tem reconhecimento que ficam de tranças, tipo marginais, foram atribuídos tarefas vocês vão para lá fazer confusão por que os da Renamo têm influência. Para nós conseguirmos sacudir aqueles primeiro tiveram que ir lá colegas à paisana, que tinham tranças e roupas rasgadas, foram formar bicha e instigar, «a Frelimo aqui tem que perder » diziam e quando outro queria responder então armava-se confusão, é muito fácil de agitar macua. Depois ligaram-nos e disseram venham lá. Aí foi a Intervenção Rápida numa de que é legítima defesa e está a ir manter a ordem. Gás lacrimogéneo e fumaça, aquilo ficava escuro, levávamos as urnas nos blindados e íamos entregar homens do SISE que preenchiam Frelimo, Frelimo... Enquanto lá na escola continuávamos a disparar. Depois os carros saiam e entravam no meio da confusão enquanto eles estavam ali a preencher. OMM aquelas senhoras são malandras, estavam lá no quartel da Intervenção Rápida em Nampula cheias a preencher Frelimo, Frelimo... houveram pessoas que se fizeram de corajosos e aí o comandante disse agora batem quatro para eles verem que a coisa é séria.
P – Ao longo deste período o Governo tem dito que não quer guerra e até quer dialogar com o partido Renamo para se alcançar a paz, acha que vão entender-se?
Agente – Sabe qual é o problema é que lá no Norte é onde há riqueza, Dhlakama foi roubado nos votos mas ganhou. Eu não entendo a política só cumpro missões, mas eles não vão deixar Dhlakama governar.

Por causa da EMATUM, Moçambique está a beira de tornar-se num Estado caloteiro



Custo de vida a subir, metical a perder terreno para o dólar norte-americano, estagnação dos investimentos, cortes nas despesas … se os moçambicanos sentem que a vida não está fácil o pior ainda está para vir, e nada tem nada a ver com a guerra nem as calamidades naturais, a causa é a EMATUM. Na semana finda o Executivo de Filipe Nyusi anunciou a intenção de renegociar com os credores, do empréstimo contraído pela Empresa Moçambicana de Atum e ilegalmente avalizado pelo Governo de Armando Emílio Guebuza, as modalidades de pagamento o que levou a agência notação financeira Standard & Poor's a baixar “o rating de crédito soberano de longo e curto prazo em moeda estrangeira atribuído à República de Moçambique de B-/B para CC/C”.

A decisão da Standard & Poor's, que considera que as perspectivas económicas no nosso país são “negativas” e seguem-se ao anúncio, no passado dia 9 de Março, da intenção do Governo de Moçambique de trocar os actuais títulos de dívida corporate com garantia soberana do Estado e emitidos pela EMATUM Finance B.V.(uma empresa com sede na Holanda) por obrigações do tesouro moçambicano emitidas em dólares norte-americanos e com taxa fixa de juros estendendo a maturidade de 2020 para 2023.
“No dia 15 de Março de 2015 a Standard & Poor's Ratings Services rebaixou o rating de crédito soberano de longo e curto prazo em moeda estrangeira atribuído à República de Moçambique de B-/B para CC/C. O rating de crédito soberano de longo prazo em moeda local foi mantido em B-/B”, indica um comunicado da instituição financeira especializada na avaliação de crédito de entes emitentes de instrumentos de dívida.

Na escala da Standard & Poor's o rating de “CC” corresponde a uma capacidade totalmente vulnerável para cumprimento de negócios financeiros e onde o incumprimento é provável e o rating de “C” refere-se a situação de incumprimento actual ou iminente, embora haja alguma possibilidade futura de cumprimento, ainda que parcial. Estes são os últimos níveis de rating antes de Moçambique tornar-se num Estado caloteiro.
“Significa que caiu de mau para péssimo. Numa escala da escola é como se caísse de 5 para 3 valores” explica o professor de economia António Francisco acrescentando que o nosso país, “desde que começou a ser avaliado pelas agências de rating acho que nunca esteve tão mau”.

Na segunda-feira(14) outra importante agência de notação financeira, a Fitch, havia colocado o rating do nosso país em “Avaliação Negativa” ao tomar conhecimento da proposta de reestruturação levada pelo ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, que esteve nos Estados Unidos da América e depois no Reino Unido, a negociar com os credores.
Na opinião da Fitch, a oferta pode constituir uma “Troca de Dívida Problemática (Distressed Debt Exchange - DDE, no original em inglês)” de acordo com os critérios da agência, o que a instituição financeira considera um evento de “incumprimento (default)”, lê-se no comunicado enviada à investidores.
Por outras palavras o Governo de Nyusi pretende liquidar a dívida quando começarem a ser geradas as primeiras receitas dos projectos de Gás Natural Liquefeito que estão na forja na província de Cabo Delgado.

A primeira prestação da EMATUM foi paga pelo povo
É importante os cidadãos trabalhadores e honestos não esquecerem que a EMATUM, que endividou pelo menos uma geração de moçambicanos em 500 milhões de dólares norte-americanos junto do banco Credit Suisse, da Suíça, e mais 350 milhões de dólares norte-americanos com o Vnesh Torg Bank, da Rússia, é uma empresa que foi criada durante o último mandato de Armando Guebuza e tem como accionistas o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), a Empresa Moçambicana de Pesca ( Emopesca) e também a sociedade Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada - uma entidade unicamente participada pelos Serviços Sociais do Serviço de Informação e Segurança do Estado (a polícia secreta).

Os empréstimos, que alegadamente foram destinados a compra de barcos de guerra e de pesca, só foram concedidos porque o Governo então presidido por Guebuza o avalizou, porém sem a necessária autorização do Parlamento. “Fixando a Lei Orçamental o valor limite para a emissão de garantias e avales, por parte do Governo, em 183.500 mil meticais (pouco mais de 6 milhões de dólares norte-americanos ao câmbio da altura), observa-se que o Governo, sem a devida autorização, emitiu avales e garantias no valor total de 28.346.620 mil meticais”, declarou o Tribunal Administrativo no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado salientando que esse valor nunca entrou nos Cofres públicos.

A primeira prestação dos empréstimos aos bancos suíço e russo, no valor de 105 milhões de dólares norte-americanos (77 milhões de dólares da dívida mais 27 milhões de juros), foram pagas em Setembro de 2015 com fundos do erário. Este ano, e nos três anos seguintes, a EMATUM, ou o Governo de Moçambique, tem previsto continuar a pagar os empréstimos no valor anual de 153 milhões de dólares da dívida, mais os devidos juros. A última parcela, prevista para 2020 está orçada em 162 milhões de dólares da dívida, mais juros.

Inflação a subir, metical a enfraquecer
Entretanto, na semana finda, o Instituto Nacional de Estatística (INE), que apenas regista o Índice de Preços no Consumidor nos mercados formais das cidades de Maputo, Beira e Nampula registou uma nova subida da inflação em 2,24%, ditando o incremento da inflação homóloga e média anual para 12,18% e 4,99%, respectivamente.
Embora o INE tenha registado no último mês um ligeiro aumento da confiança empresarial na realidade a economia está estagnada, os investimentos estrangeiros e nacionais há muito reduziram, as facturas aguardando pagamento acumulam-se, o metical continua a depreciar-se em relação ao dólar norte-americano e ao rand sul-africano, e o dinheiro nos bancos comerciais continua a encarecer.

Cumprindo as directrizes do Fundo Monetário Internacional(FMI), de “cumprimento da meta indicativa da Base Monetária de Março de 2016 fixada em 66.443 milhões de meticais”, o Banco de Moçambique decidiu “manter a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de liquidez em 10,75%; manter a taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos em 4,25%; manter o Coeficiente de Reservas Obrigatórias em 10,5%”, indica um comunicado do Comité de Política Monetáriada instituição dirigida por Ernesto Gove que em nenhum momento refere o contributo da Empresa Moçambicana de Atum para a crise económica e financeira que estamos a viver embora o FMI tenha confirmado no seu primeiro relatório de 2016 que o “o início dos pagamentos relativos às obrigações da EMATUM fez duplicar os compromissos relativos ao serviço da dívida em termos nominais”.

Primeiros barcos-patrulha comprados através da EMATUM estão a caminho de Moçambique


As primeiras embarcações de guerra adquiridas por Moçambique, através da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), ao estaleiro francês Construções Mecânicas da Normandia (CMN) deixaram o porto de Cherbourg, no noroeste da França, e estão a caminho do porto de Pemba. São três barcos de patrulha HSI 32, parte de um lote que inclui outros três barcos de guerra e 24 embarcações de pesca adquiridas em 2013 pelo Governo de Armando Guebuza ao custo de 350 milhões de dólares norte-americanos mas que endividou, ilegalmente, Moçambique em 850 milhões de dólares norte-americanos.
Os três barcos de patrulha estão a ser transportados para Moçambique num navio de carga, com bandeira holandesa, e deverão chegar ao porto de Pemba a 1 de Fevereiro próximo, de acordo com o sítio de informações marítima Mer et Marine.
Estes barcos de casco de alumínio, os mais modernos da sua geração, são muito rápido tendo passado positivamente pelos testes de 54 nós e foram projectados para vigilância e protecção de zonas marítimas, em particular em acções de anti-pirataria, contra-terrorismo, ou missões para controle de tráfico ilícito.
Os HSI32 tem um alcance aproximado de 800 milhas náuticas, pode acomodar uma tripulação de até 12 marinheiros com autonomia prolongada de três dias e possui uma rampa de lançamento de barcos de borracha insufláveis na popa e uma ponte de 360 °.
Os três barcos de patrulha estão ainda equipado com capacidades de auto-defesa, incluindo um sistema de armas de controlo remoto de 20 milímetros e ainda mais duas metralhadoras 12,7 milímetros com um campo de cobertura de 360 °.
Em termos de guerra electrónica, de acordo com sítio Mer et Marine, o HSI32 vem com sensores de detecção e vigilância avançados que estão integrados com o Sistema de Gestão de Combate.

Aval do Estado ilegal

Embora a marinha de guerra moçambicana precise deste tipo de barcos, tendo em conta a necessidade de protecção da extensa costa do nosso país (uma das maiores do mundo), a verdade é que a operação financeira que foi feita para a sua aquisição foi ilegal, continua envolta em alguma penumbra e contribuiu para agravar a dívida pública de Moçambique.
Recorde-se que em Setembro de 2013 a empresa francesa CMN tornou público o negócio estimado em 350 milhões de dólares norte-americanos que era desconhecido em Moçambique. Entretanto ficou-se a saber que a empresa EMATUM, que não existia nessa altura (a sua escritura só aconteceu no dia 02 de Agosto de 2013), havia-se endividado em 500 milhões de dólares norte-americanos com o banco Credit Suisse, da Suíça, e em mais 350 milhões de dólares norte-americanos junto ao Vnesh Torg Bank, da Rússia, em nome de Moçambique.
Os empréstimos só foram concedidos porque o Estado moçambicano o avalizou sem autorização do Parlamento, e escondendo das Contas Públicas. Em 2013 limite para avales e garantias concedidos pelo Estado foi fixado, pelo artigo 11 da Lei n.º 1/2013, de 7 de Janeiro, em 183.500 mil meticais (pouco mais de 6 milhões de dólares norte-americanos ao câmbio da altura).
“Fixando a Lei Orçamental, como referido atrás, o valor limite para a emissão de garantias e avales, por parte do Governo, em 183.500 mil Meticais, observa-se que o Governo, sem a devida autorização, emitiu avales e garantias no valor total de 28.346.620 mil Meticais”, sentenciou o Tribunal Administrativo no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2013. Nenhum funcionário do Estado ou membro do Governo foi responsabilizado até hoje por esta ilegalidade.
Para adensar a penumbra são accionistas da Empresa Moçambicana de Atum o Instituto de Gestão das Participações do Estado(IGEPE), a Empresa Moçambicana de Pesca( Emopesca) e, a sociedade Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada - uma entidade unicamente participada pelos Serviços Sociais do Serviço de Informação e Segurança do Estado (a polícia secreta de Moçambique).
EMATUM tecnicamente falida

Também grave é o facto do Governo e a EMATUM não terem ainda explicado como foram gastos os 500 milhões de dólares norte-americanos da diferença entre o empréstimo contraído e o custo das embarcações.

O estaleiro francês Construções Mecânicas da Normandia prevê entregar até meados de 2016 os restantes três barcos patrulha, estes do tipo trimaran Ocean Águia 43.
As 24 embarcações de pesca de atum, que estão em Maputo desde meados de 2014, têm sido vistas mais tempo ancoradas no porto do que fora dele o que indicia uma fraca actividade de pesca, (contrariamente as 200 mil toneladas de atum projectadas para serem pescadas por ano a frota só pescou somente 6 mil toneladas), o que poderá contribuir para agravar os resultados negativos e a viabilidade da Empresa Moçambicana de Atum , que no primeiro ano de actividade registou perdas no valor de 25,3 milhões de dólares norte-americanos, e não está a honrar com os seus compromissos junto às instituições bancárias europeias.
A primeira prestação do empréstimo, no valor de 105 milhões de dólares norte-americanos ( 77 milhões de dólares da dívida mais 27 milhões de juros), foi paga em Setembro de 2015 com fundos do erário.

Além dos 850 milhões de dólares da EMATUM outra estatal, a Proindicus, endividou Moçambique em mais 622 milhões


Com o agravamento da crise económica e financeira em Moçambique o Governo de Filipe Nyusi não se cansa de repetir que a culpa é da seca, da chuva, da guerra, dos mercados internacionais... porém em nenhum momento refere-se as dívidas ilegalmente contraídas pelo Executivo anterior. É que para além dos 850 milhões de dólares da dívida da EMATUM, ilegalmente avalizados pelo Estado, existem mais 622 milhões de dólares que foram contraídos em empréstimos, secretamente, por uma outra empresa estatal denominada Proindicus, SA. O pior é que deste 1,47 bilião nem um só dólar entrou no erário e por isso os moçambicanos vão pagar empréstimos que não se destinam à agricultura, educação, saúde ou água potável mas sim foi gasto em negócios que envolvem armas para a guerra.
“(...)Nenhuma economia pode viver e sustentar-se de empréstimos”, afirmou na passada sexta-feira(01) Carlos Agostinho do Rosário, o primeiro-ministro de Moçambique, num encontro onde tentou acalmar os empresários filiados na Confederação das Associações Económicas (CTA), sem no entanto revelar que quem tem endividado o país é o próprio Executivo, ou melhor foram os sucessivos Governos de Armando Emílio Guebuza.
Os moçambicanos que já eram devedores de 850 milhões de dólares norte-americanos, aos bancos Credit Suisse e Vnesh Torg Bank, através de empréstimos contraídos pela Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM) - uma empresa que tem como accionistas o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), a Empresa Moçambicana de Pesca ( Emopesca) e também a sociedade Gestão de Investimentos, Participações e Serviços, Limitada, uma entidade unicamente participada pelos Serviços Sociais do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) -, e avalizados ilegalmente pelo Executivo de Guebuza, são agora confrontados com mais dois empréstimos, concedidos pelos mesmos bancos suíço e russo, no valor global de 622 milhões de dólares norte-americanos.
De acordo com o The Wall Street Journal os empréstimos foram concedidos no ano de 2013 à empresa Proindicus SA, para a compra de navios para a marinha e radares para a protecção contra a pirataria marítima.
A Proindicus é uma Sociedade Anónima (SA), constituída a 21 de Dezembro de 2012, e que tem por objecto a “concepção, financiamento, implementação e gestão de sistemas integrados de segurança aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre; Consultoria, Procurement e fornecimento de equipamentos e acessórios; Prestação de serviços na área de segurança de infra-estruturas; e prestação de serviços na área de navegação aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre”, de acordo com o Boletim da República da III série, número 2 de 8 de Janeiro de 2013.
Embora os accionistas da Proindicus sejam anónimos o @Verdade apurou que 50% desta empresa são detidos por uma outra Sociedade Anónima, a Monte Binga, que se identifica no seu sítio na internet como sendo “uma holding detida 100% pelo Estado Moçambicano”. O Estado é o único accionista da Monte Binga desde 2009, através do IGEPE.
O @Verdade apurou ainda que outro accionista anónimo da Proindicus é Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE).
Não são conhecidos os contornos destes empréstimos contraídos pela empresa estatal Proindicus SA porém, segundo o The Wall Street Journal, deverão ser pagos na totalidade até 2021.

EMATUM + Proindicus representam o triplo do orçamento da Saúde e quatro vezes mais da Agricultura

Em meados de Março a agência notação financeira Standard & Poor's a baixou o rating de crédito soberano de longo e curto prazo em moeda estrangeira atribuído à Moçambique para o nível de quase incumprimento após considerar que as perspectivas económicas do nosso país são “negativas”.
Essa decisão foi tomada numa altura em não se sabia da existência destas dívidas contraídas pela Proindicus. Nem mesmo os bancos Credit Suisse e Vnesh Torg Bank revelaram a sua existência aos seus clientes que, tudo indica, aceitaram renegociar os títulos de dívida corporate com garantia soberana do Estado e emitidos pela EMATUM Finance B.V.(uma empresa com sede na Holanda) por obrigações do tesouro moçambicano emitidas em dólares norte-americanos e com taxa fixa de juros com maturidade em 2023.
Embora o Estado assuma a dívida da EMATUM nenhum dos 850 milhões de dólares norte-americanos entrou nos cofres do tesouro moçambicano, além disso os barcos de pesca, e também de combate anti-pirataria, que o estaleiro francês Construções Mecânicas da Normandia vendeu custaram apenas cerca de 350 milhões de dólares norte-americanos o que levanta a dúvidas sobre a quem beneficiou, ou para que fim foram usados, os cerca de 500 milhões de dólares norte-americanos restantes.
Relativamente aos 622 milhões de dólares norte-americanos emprestados à Proindicus SA o mistério sobre o seu uso é ainda maior.

Entretanto, desde 2013 são visíveis os novos carros blindados alocados às Forças de Defesa e Segurança. Um agente das Forças Especiais moçambicanas relatou recentemente ao @Verdade e SAVANA que armamento novo tem sido recebido citando quantidades não especificadas de canhões ZU23, armas de precisão Dragunov, metralhadoras Pecheneg , metralhadoras AK-47 e respectivas munições.

Por ironia do destino nesta segunda-feira(04) o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades revelou que 1,4 milhões de moçambicanos estão em situação de insegurança alimentar, devido à seca, e que o Governo necessita de 13 milhões de dólares norte-americanos para responder à fome, menos de metade só dos juros pagos pela primeira prestação da dívida da EMATUM, que custou ao erário, em Setembro passado, 105 milhões de dólares norte-americanos (77 milhões de dólares da dívida mais 27 milhões de juros).
A título comparativo a dívida da EMATUM e da Proindicus, que totaliza 1,47 bilião de dólares norte-americanos, é o triplo do Orçamento de Estado previsto para Saúde este ano e cerca de quatro vezes mais o valor destinado à Agricultura e Segurança Alimentar.
Na Assembleia da República, os deputados do partido Frelimo têm impedido a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a Empresa Moçambicana do Atum. Entre os deputados do partido que governa Moçambique há mais de 40 anos estão alguns dos responsáveis por estas negociatas ilegais.
O que será que o povo patrão vai fazer? Provavelmente apertar mais o cinto e continuar a deixar que o seu empregado, e camaradas, continuem tranquilamente a delapidar a chamada “pérola do Índico”.

O caso Ematum. O que se passa em Moçambique?


Moçambique admitiu esta semana que escondeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) um montante superior a mil milhões de dólares de dívida externa. A instituição viu nesta atitude do governo moçambicano um “primeiro passo importante”, mas o reconhecimento de culpa não foi suficiente para demover o FMI de cancelar o pagamento da segunda tranche de um empréstimo de 285 milhões acordado no ano passado. O que se passa em Moçambique?
O “Caso Ematum” estalou quando a Economist Intelligence Unit (EIU), a unidade de análise da revista britância The Economist, revelou que os números oficiais do Ministério das Finanças moçambicano sobre o montante de dívida pública não refletem os empréstimos da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) e da Proindicus, duas empresas públicas.
Dívida pública oficial não contabiliza obrigações da Ematum nem o empréstimo da Proindicus
Segundo os dados oficiais, a dívida pública moçambicana aumentou 31% em relação ao ano anterior. Contudo, referem os analistas da EIU, este aumento não inclui dois aspetos essenciais: as obrigações de dívida emitidas pela Ematum em 2013, no valor de 850 milhões de dólares, e o empréstimo de 622 milhões de dólares contraído pela Proindicus, também em 2013 e até agora nunca divulgado pelo governo moçambicano.

Ora, esta emissão de 850 milhões de dólares serviria, oficialmente, para arrancar com a Ematum, mas terá sido canalizada, essencialmente, para gastos com defesa. Segundo o portal moçambicano Verdade, os barcos de pesca comprados pela Ematur custaram 350 milhões de dólares, não se sabendo em que foram utilizados os restantes 500 milhões.
Entretanto, este mês, estas obrigações foram renegociadas pelo Estado moçambicano para transformar o remanescente da dívida em títulos de dívida soberana de Moçambique.
Perante estes factos, os analistas da EIU questionaram a “transparência orçamental de Moçambique”, levantando dúvidas sobre o montante de dívida pública do país.

Poucos dias depois, nova polémica: de acordo com o Financial Times, além das obrigações da Ematum e do empréstimo à Proindicus, houve ainda um terceiro empréstimo a uma empresa pública, não nomeada, num valor superior a 500 milhões de dólares.
O valor da dívida pública não declarada de Moçambique ascende a mais de 1,8 mil milhões de dólares
O balanço: com os cerca de 700 milhões de dólares em dívida soberana que substituíram as obrigações da Ematum, o empréstimo de 622 milhões à Proindicus e estes 500 milhões a outra empresa pública, o valor da dívida pública (não declarada) ascende a mais de 1,8 mil milhões de dólares.

E o resultado: o FMI cancelou uma visita a Moçambique programada para esta semana, bem como o pagamento de 155 milhões de dólares, que seriam a segunda tranche de um empréstimo de 285 milhões acordado no ano passado, e os juros da dívida soberana de Moçambique dispararam para o máximo histórico de 14%.

O que são a Ematur e a Proindicus?

No centro da polémica está, em primeiro lugar, a empresa pública Ematum. A empresa de pesca de atum foi fundada em 2013, com capitais públicos e privados, contando com um capital social de 15 milhões de meticais (à volta de 251 mil euros). O Instituto de Gestão das Participações do Estado moçambicano detém 34% da empresa; a Empresa Moçambicana de Pesca detém 33%; e a Gestão de Investimentos, Participações e Serviços detém outros 33%.
No final de 2014, o último para o qual há dados disponíveis, a empresa reportou lucros de 850,54 milhões de meticais (14,2 milhões de euros). Porém, nesse período, o passivo da Ematum, entre empréstimos contraídos e pagamento de impostos diferidos, ascendia a 36,5 mil milhões de meticais (611,6 milhões de euros).

Já a Proindicus, constituída em 2012, tem por objeto a “conceção, financiamento, implementação e gestão de sistemas integrados de segurança aérea, espacial, marítima, lacustre, fluvial e terrestre”, entre outras áreas relacionadas com segurança.
Os acionistas da Proindicus são anónimos. Segundo o Verdade, 50% do capital desta empresa é detido por uma outra sociedade anónima, a Monte Binga, um holding controlada a 100% pelo Estado moçambicano. O Estado é acionista da Monte Binga através do IGEPE.

Um mercado que “continua a fazer todo o sentido” para Portugal

“É provavelmente um dos piores casos de entrega de dados errados por parte de um governo que o FMI viu num país africano nos últimos tempos”. É assim que uma fonte do FMI descreve ao Financial Times a omissão do governo moçambicano. Para a mesma fonte, Moçambique está mesmo “à beira de uma crise financeira se as autoridades não tomarem medidas para lidarem com os riscos atuais”.
Para as empresas portuguesas, esta situação não representa, contudo, e pelo menos para já, motivo para preocupação.
A Portucel é uma das empresas que mais investe em Moçambique. O investimento total da empresa de produção de pasta de papel deverá ascender a 3 mil milhões de euros (2,7 mil milhões de euros), sendo que é um projeto de muito longo prazo, com duas concessões, ambas de 50 anos. Precisamente por ser um projeto de muito longo prazo, “não está dependente das questões atuais”, refere ao Dinheiro Vivo fonte ligada ao mercado.

Ao mesmo tempo, e ainda que, obviamente, seja preferível atuar num mercado cuja economia está a crescer, a verdade é que o abrandamento da economia moçambicana não tem, no curto prazo, um impacto negativo sobre a empresa; pelo contrário. “Quando a economia está pujante e há grandes empresas a contratar, os salários disparam”, aponta a mesma fonte.
E há ainda um terceiro aspeto: “No imediato, o projeto da Portucel até ganha interesse para o governo moçambicano, uma vez que outras empresas já estão a sair e a reequacionar investimentos, enquanto a Portucel está lá para ficar durante 100 anos”.

Neste contexto, fica claro que a situação de Moçambique “não altera em nada” a estratégia da Portucel e o país “continua a fazer todo o sentido” em termos de investimento.
O grupo Vila Galé não tem qualquer unidade em Moçambique mas, há dois anos, manifestou a intenção de investir no país. Na altura, Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo hoteleiro, adiantou que a ideia seria inaugurar um unidade em Maputo. “Seria um hotel de cidade e há dois modelos em aberto: comprar ou arrendar um edifício que será construído”, disse então ao jornal Sol.
Desde então, não há grandes novidades sobre este mercado, mas Gonçalo Rebelo de Almeida admite ao Dinheiro Vivo que o interesse por Moçambique se mantém, independentemente dos acontecimentos das últimas semanas. “Existem conversações preliminares com um parceiro local que pretende fazer um investimento na construção de um hotel e depois fazer um contrato de gestão com a Vila Galé para essa unidade”, detalha.

Os juros exigidos pelos investidores para transacionarem os títulos de dívida soberana de Moçambique bateram o recorde de 14%.


Os juros exigidos pelos investidores para transacionarem os títulos de dívida soberana de Moçambique bateram o recorde de 14%, no dia em que o país assumiu ter mais de mil milhões de dólares em dívida escondida. A taxa de juro que os investidores estão a cobrar para transacionarem os 727 milhões de dólares (640 milhões de euros) em títulos de dívida soberana, com maturidade em janeiro de 2023, subiu pelo quinto dia consecutivo, para 14,08%, o que compara com os 12,72% da última quinta-feira, o dia anterior à declaração do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a existência de dívida escondida.

O valor dos títulos caiu 6,3% desde que teve um pico a 13 de abril, uma semana depois de terem sido emitidos, e a desvalorização é mais significativa tendo em conta que nesse período a média da evolução dos títulos de dívida dos mercados emergentes regista um ganho de 0,3%, de acordo com os cálculos feitos pela agência financeira Bloomberg.

“O preço caiu por causa das notícias sobre a existência de mais empréstimos não divulgados”, comentou o gestor de fundos Marco Ruijer, da NN Investment Partners, em Londres, que tem a seu cargo a administração de mais de 7 mil milhões de dólares em títulos de dívida dos mercados emergentes. “Eles não anunciaram alguns empréstimos ao FMI antes e isso é realmente uma coisa má. Agora o mercado está volátil. Tudo o que podemos fazer é ver o que os números vão dizer”, acrescentou o gestor, citado pela Bloomberg.

Moçambique fez a sua primeira emissão de títulos de dívida em moeda estrangeira (‘eurobonds’) este mês, oferecendo aos investidores a possibilidade de trocarem as obrigações da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) por títulos de dívida soberana com uma taxa de juro anual maior e uma maturidade mais alargada. Na sequência deste operação e da descida de ‘rating’ das três principais agências de notação financeira, foi divulgado pelo Wall Street Journal a existência de outro empréstimo de 622 milhões de dólares à estatal Proindicus, e na terça-feira o Financial Times acrescentou que havia pelo menos mais, superior a 500 milhões, que também não foi reportado ao FMI.

O primeiro-ministro moçambicano reconheceu na terça-feira à noite que o FMI não tinha sido informado sobre um valor superior a mil milhões de dólares da dívida externa de Moçambique, revelou o organismo, que vê nesta atitude um “primeiro passo importante”. Carlos Agostinho do Rosário reuniu-se com a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na terça-feira, em Washington.

 “O primeiro-ministro de Moçambique reconheceu que um montante superior a mil milhões de dólares de sua dívida externa garantida pelo Governo não havia sido anteriormente divulgado ao Fundo”, informou o FMI, numa nota enviada à agência Lusa. Segundo o Fundo, Christine Lagarde recebeu a divulgação destas informações por parte das autoridades moçambicanas como um “primeiro passo importante”. Moçambique vai fornecer mais informações e documentação de apoio ao longo dos próximos dias para que se poderem “apurar os factos e permitir que o Fundo efetue uma avaliação completa”, destacou o FMI. “O Fundo e Moçambique vão trabalhar juntos de forma construtiva para avaliar as implicações macroeconómicas dessas informações e identificar passos para restaurar a confiança”, lê-se ainda na nota enviada à Lusa.




Referência Bibliográfica


↑. http://verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57164-ha-esquadroes-de-morte-para-abater-opositores-revela-agente-da-policia-da-republica-de-mocambique, Jornal @Verdade do dia 11 Março 2016 (Actualizado em 13 Março 2016).
↑. http://verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57220-por-causa-da-ematum-mocambique-esta-a-beira-de-tornar-se-num-estado-caloteiro, Jornal @Verdade do dia 16 Março 2016.
↑. http://verdade.co.mz/destaques/democracia/56495-primeiros-barcos-patrulha-comprados-atraves-da-ematum-estao-a-caminho-de-mocambique, Jornal @Verdade do dia 15 Janeiro 2016.
↑. http://verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57443-alem-dos-850-milhoes-de-dolares-da-ematum-outra-estatal-a-proindicus-endividou-mocambique-em-mais-622-milhoes, Jornal @Verdade do dia 05 Abril 2016 (Actualizado em 11 Abril 2016).
↑. http://msn.com/pt-pt/financas/negocios/o-caso-ematum-o-que-se-passa-em-mo%C3%A7ambique/ar-BBs3lg6?li=BBoPWjC&ocid=SK2MDHP, MSN, Publicado no dia 21 de Abril de 2016.
↑. http://dinheirovivo.pt/economia/juros-da-divida-mocambique-batem-recorde-14/, Dinheiro Vivo/Lusa, artigo publicado no dia 20.04.2016 .


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